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Absolvição de acusados de sequestro comove Argentina e é criticada por Cristina

Presidente se disse 'indignada' com a decisão e afirmou que caso evidencia 'divórcio da Justiça com a sociedade'.

Por Marcia Carmo
Atualização:

A decisão da justiça argentina de absolver, na noite de terça-feira, todos os 13 acusados do sequestro e desaparecimento de María de los Ángeles Verón, mais conhecida como Marita Verón, provocou uma onda de indignação no país e reação da presidente Cristina Kirchner nesta quarta. A decisão surpreendeu a mãe da jovem, Susana Trimarco (batizada de "mãe coragem"), que chegou a se passar por cafetina, percorrer bordéis e, na sua luta para encontrar a filha, resgatar mulheres sequestradas por quadrilhas de exploração sexual. Marita tinha 23 anos quando foi sequestrada em uma rua, perto de casa, na cidade de San Miguel de Tucumán, na província de Tucumán, no noroeste da Argentina, em abril de 2002. Ela era mãe de uma bebê, Micaela, de três anos, agora uma adolescente que trabalha com a avó, Susana, na fundação que criaram para ajudar as vítimas destes casos. Em julgamento na terça, os juízes de Tucumán argumentaram "falta de provas" para incriminar os acusados do caso Marita Verón. Na hora da leitura da sentença, eles choraram e se abraçaram, e Susana levantou-se em silêncio. Depois perguntou, em voz alta: "Como podem dizer que não há provas? E as mulheres que sofreram nas mãos deles e que vieram aqui e os apontaram na sala deste tribunal? Como pode ser?". Para logo em seguida, acrescentar: "a decisão da Justiça foi pela falta de justiça. É uma vergonha. Eu não vou parar enquanto não localizar minha filha. Não tenho mais lágrimas, estou cansada, mas continuo forte". 'Divórcio da Justiça e da sociedade' A absolvição se tornou um dos principais assuntos do dia nas emissoras de rádio e de televisão do país e foi a manchete dos principais jornais argentinos. "Escândalo: absolvem os 13 acusados no caso Marita Verón", publicou o Clarín; "Comoção: sem culpados no julgamento de Marita Verón", escreveu o La Nación. A presidente Cristina Kirchner se disse "indignada" com a decisão e afirmou que o caso evidencia "um divórcio da Justiça com a sociedade", sugerindo que juízes podem estar recebendo dinheiro para definir suas sentenças. "A Justiça deixa entrar e sair quem rouba, quem mata. Acho que quando há dinheiro no meio, não lhes importa nada", afirmou a presidente, que já vinha fazendo fortes críticas a Justiça (recentemente, o Poder Judiciário decidiu em favor do grupo Clarín em uma disputa com o governo). Segundo Cristina, é preciso "democratizar o Judiciário". "Assim que eu soube da decisão, liguei para Susana e pensei que fosse encontrar uma mulher destroçada. Mas ela está ainda mais forte", agregou. "Nós mães temos uma fortaleza que não sei de onde vem. Susana está mais decidida que nunca a seguir lutando por sua filha e todas as filhas de todas as mães que podem ter sido sequestradas por exploradores sexuais." Protestos Nesta quarta-feira, manifestantes se concentraram na porta do tribunal de Tucumán com bandeiras e cartazes, protestando contra a absolvição dos 13 réus, e centrais sindicais, como a Central de Trabalhadores Argentinos (CTA), convocaram protesto contra a sentença em Buenos Aires. Susana Trimarco disse que vai pedir apoio aos congressistas para que seja aprovada a "intervenção da Justiça" de Tucumán e analisa recorrer à Suprema Corte de Justiça, segundo afirmaram à BBC Brasil assessores da Fundação María de los Ángeles, criada para tentar recuperar mulheres sequestradas por quadrilhas de exploração sexual. O drama de Susana e sua filha inspirou o enredo da novela Vidas Roubadas, na emissora Telefe, em 2008. "Eu era uma mulher que vivia entre o trabalho numa repartição pública, um pequeno comércio e a família. Mas desde o sequestro da minha filha passei a lutar para localizá-la e acabei ajudando outras mulheres", disse ela à BBC Brasil em março deste ano. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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