Absolvição de americanos revolta familiares de vítimas de massacre

A conclusão do inquérito foi anunciada neste sábado, um dia depois da veiculação de um vídeo que mostrava corpos das supostas vítimas do massacre, incluindo mulheres e crianças

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma investigação do Exército dos Estados Unidos inocentou fuzileiros navais acusados de matar civis iraquianos na aldeia de Ishaqi, em março de 2005. A decisão revoltou os parentes das vítimas. A conclusão do inquérito foi anunciada neste sábado, um dia depois da veiculação de um vídeo que mostrava corpos das supostas vítimas do massacre, incluindo mulheres e crianças. A investigação sobre o ataque em Ishaqi concluiu que os soldados americanos seguiram procedimentos normais, ao aumentar o nível da força quando foram alvejados por tiros vindo de um edifício da aldeia, onde supostamente estaria escondido um terrorista da Al-Qaeda, afirmou o porta-voz do Exército, major general William Caldwell. O iraquiano, Issa Hrat Khalaf, cujo irmão foi morto durante a ação americana na aldeia, exigiu uma investigação independente e disse que os soldados americanos responsáveis pelo ataque deviam enfrentar a execução. "Onde estão os terroristas? São eles mulheres e crianças?", questionou Khalaf durante uma entrevista por telefone. "Parece que as vidas dos iraquianos não valem nada", acrescentou. Apesar da insistência do governo iraquiano na cooperação entre as investigações no Estados Unidos e no Iraque, as famílias das vítimas se recusaram a permitir a exumação dos corpos, que é proibida pelas leis do Islã. A investigação sobre o ataque em Ishaqi é apenas um dos inquéritos em andamento sobre denúncias de conduta imprópria de soldados americanos. Marines também são acusados de matar 24 civis iraquianos desarmados na cidade de Haditha, no dia 19 de novembro do ano passado. Mais depoimentos de familiares das vítimas reforçam a versão de que os civis foram executados por militares americanos. Imagens da emissora de TV da agência Associated Press em Haditha veiculadas no sábado mostram as paredes da casa de uma das vitimas cravejadas de balas. Haditha A menina de 9 anos Iman Walid Abdul-Hameed, que afirmou que estava na casa quando o tiroteio de Haditha ocorreu, disse que seu irmão e vários outros parentes foram mortos por soldados americanos. "Queremos que os americanos sofram tanto quanto nós" disse ela em entrevista a um cinegrafista, na casa de seu primo, onde vive atualmente. Segundo o advogado das famílias da vítimas em Haditha, Khaled Salem Rsayef, em uma das casas, marines ordenaram que quatro irmãos entrassem em um armário e em seguida abriram fogo contra eles. O advogado perdeu vários parentes no massacre incluindo, uma irmã, um cunhado, uma tia e vários primos. O jornal The New York Times, em uma reportagem publicada neste sábado, afirma que comandantes no Iraque souberam dois dias depois da ação que os civis foram mortos por tiros e não uma explosão em uma estrada, como foi relatado na versão oficial do Exército. A informação foi passada por um alto oficial da Marinha que não foi identificado. O Exército americano em Bagdá recusou-se a comentar a informação do jornal. O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, censurou na quinta-feira o Exército americano pelo ataque em Haditha, o qual definiu como um "crime horrível". O premier acusou ainda soldados americanos de atacarem freqüentemente civis desarmados. O gabinete de al-maliki não comentou a decisão de inocentar os soldados americanos pelo ataque em Ishaqi. Novo atentado Um dia depois da decisão que inocentou os soldados envolvidos no ataque, a explosão de uma bomba em Ishaqi neste sábado deixou dois soldados americanos feridos. Segundo um comunicado do Exército, um comboio foi atingido quanto patrulhava a aldeia e a área foi isolada imediatamente. Os soldados feridos foram encaminhados para o hospital.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.