Ação desastrada ameaça confiança em Saakashvili

Erros e retórica exaltada minam apoio da população a presidente da Geórgia

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Por Reuters
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A maioria dos georgianos apóia o governo em seu conflito com a Rússia, mas vozes discordantes têm se levantado contra o presidente Mikhail Saakashvili por levar Tbilisi a uma guerra que jamais poderia vencer. Há um sentimento crescente na capital de que o líder georgiano jogou com a expectativa de uma intervenção de seus aliados ocidentais para barrar uma ofensiva russa. Ele perdeu feio. A oposição tem se mostrado relutante em criticá-lo, mas alguns começam a protestar. "O apoio ao presidente é uma questão de princípio, agora que enfrentamos uma agressão", disse David Usupashvili, do Partido Republicano. "Mas, quando esse pesadelo acabar, muitos começarão a questionar, porque sabem que Saakashvili cometeu um erro ao não pensar nas conseqüências." Milhares foram às ruas de Tbilisi na terça-feira para denunciar a "agressão russa" e ovacionar Saakashvili. Mas analistas dizem que ele corre o risco de perder a confiança da população, com sua campanha militar desastrosa. "Há muitos mortos. Qual o sentido de tudo isso? Caímos em uma armadilha muito bem planejada", disse Archil Gegeshidze, da Fundação Georgiana para Estudos Internacionais e de Segurança. Mas não são apenas as ações militares que ameaçam o apoio a Saakashvili. Outro problema é o tom cada vez mais feroz e confuso que ele vem usando, à medida que o conflito se estende, fazendo líderes separatistas o qualificarem de "esquizofrênico" e diplomatas afirmarem que ele está perdendo a guerra de informação. Em entrevista à rede americana CBS, Saakahsvili comparou Moscou à Alemanha nazista e acusou os russos de arrasar o país: "Tanques estão levando as pessoas de Tbilisi para campos de concentração. Estão levando móveis, tampas de banheiro e matando pessoas." Moscou nega os saques e a tomada da capital. O presidente também interrompeu uma entrevista ao dizer que aviões russos estavam bombardeando seu palácio - informação negada por seus próprios funcionários. Saakashvili também acusou o Ocidente de ser indulgente com a Rússia, traçando paralelos com a política européia em relação à Alemanha nazista. "A reação não está sendo adequada. Estão apaziguando. Em 1938, a política de apaziguamento causou dezenas de milhões de mortes na Europa." Para um diplomata ocidental em Moscou, Saakashvili não tem se mostrado convincente."Ao ver suas entrevistas, acha que ele está ganhando a guerra de informação? Ele parece alguém estressado. Não creio que esteja bem."

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