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Ação deu a diplomata popularidade em rede social e status de herói

Mais de 4 mil seguidores passaram a exaltar a 'coragem' de Saboia na página que ele mantém no Facebook

Por LA PAZ
Atualização:

Uma viagem de 22 horas garantiu ao diplomata Eduardo Saboia mais popularidade do que o senador Roger Pinto conseguiu reunir em 455 dias confinado. Em duas páginas de apoio no Facebook, o ex-encarregado de negócios da missão brasileira em La Paz reúne mais de 4 mil solidários a sua história, 100 a mais do que o boliviano na noite de sexta-feira.Nas redes sociais, o carioca de 46 anos que alega ter decidido sozinho atravessar a Bolívia clandestinamente, transformou-se num símbolo - de inúmeras causas. Se a palavra "coragem" e suas variações é a que mais aparece nos sites que o apoiam, os xingamentos ao governo federal e incentivos a ele como "homem público" vêm em seguida.Questionado pelo Estado sobre o uso de sua suposta insubordinação ao Itamaraty por grupos de diferentes interesses políticos, Saboia não respondeu até sexta-feira à noite. Durante a semana passada, entretanto, ele disse em várias entrevistas ter votado na presidente Dilma Rousseff, aparentemente numa tentativa de tirar a carga ideológica ligada à fuga - ele afirmou que seu objetivo era humanitário. "Não imaginei que teria esta repercussão", disse ao Estado, seis dias após a viagem.Enquanto no Brasil têm predominado os afagos de internautas e analistas políticos - bem como da própria oposição - por ter afrontado uma orientação do governo federal, na Bolívia predominam os ataques. A ministra das Comunicações, Amanda Dávila, foi a mais explícita, ao dizer que a operação de fuga foi "algo organizado por algum grupo contrário ao governo de Dilma". Na quarta-feira, Evo Morales seguiu a mesma linha, afirmando que "há grupos interessados em criar desconfiança entre dois governos amigos".No Facebook, a distância na popularidade virtual entre os dois companheiros de viagem que rezaram juntos ao pisar no Brasil, há oito dias, tende a aumentar. Pinto é senador pelo Estado amazônico de Pando, de 110 mil habitantes (a capital, Cobija, tem 70 mil). Uma região mais conhecida por fazer parte da chamada Meia-Lua opositora (formada também por Santa Cruz, Beni e Tarija) do que propriamente por sua relevância política. Fora de seu curral eleitoral, Pinto não tinha cacife que o colocasse no mesmo patamar político de Evo. A perseguição política, reconhecida pelo Itamaraty e atestada por especialistas que estudaram os processos aos quais foi submetido, deu-lhe espaço no noticiário. Abraçado pela oposição como exemplo do autoritarismo de Evo, Pinto continua um desconhecido nas grandes cidades. "Nem sei porque ele se escondeu tanto para fugir. Se o visse, não o entregaria", disse Carlos Suárez, morador de Cochabamba, ao Estado. Durante três dias, relatos semelhantes, em tom de indiferença, foram ouvidos mesmo de bolivianos que detestam Evo.A causa dos "perseguidos" aparentemente não afeta a população boliviana, que critica Evo muito mais pelas dificuldades econômicas ou por governar especificamente para grupos indígenas e plantadores de coca. Para esta indiferença, contribui o fato de que não há consenso sobre o grau de perseguição imposto por Evo sobre os opositores. O analista político Marcelo Silva, da Universidad Mayor de San Andrés de La Paz, acredita que houve assédio apenas em 2008, após uma tentativa de golpe contra o presidente. "Hoje não se pode dizer que há perseguidos políticos", opina. Para o ex-vice-presidente Víctor Hugo Cardenas (1993-1997), "não existe um só opositor que não tenha processo, esteja preso ou exilado".

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