PUBLICIDADE

Ação leva tensão a jornalistas do grupo

Indignados, funcionários compararam ação a medidas da época da ditadura

Por Ariel Palacios e BUENOS AIRES
Atualização:

A grande concentração de fiscais do Fisco argentino na frente da sede do grupo jornalístico Clarín, que edita o principal jornal do país, causou tensão e indignação entre funcionários da empresa."Desde a volta à democracia, nunca vi uma ação parecida", afirmou Hermenegildo Sábat, de 76 anos, um dos mais respeitados e conhecidos caricaturistas da Argentina. "Nem durante a ditadura (de 1976 a 1983) houve uma fiscalização tão ostensiva e tão intimidatória."Segundo os jornalistas da redação do Clarín, os cerca de 200 agentes da Receita foram chegando a pé e aos poucos até o edifício do jornal. "Acredito que nem todos são fiscais", disse ao Estado a colunista de economia Silvia Naishtat. "Muitos vieram até aqui apenas para dar volume à operação, impressionar e intimidar.""Negamos que se trate de alguma espécie de campanha de intimidação", disse um dos fiscais que participavam da operação da Receita, assegurando de que se tratava de um "procedimento normal".Segundo a fonte, os fiscais foram enviados à sede do Clarín porque teriam sido detectadas "inconsistências" em suas declarações de renda.GARANTIAAinda de acordo com a fonte, o grande número de agentes era necessário para que fosse possível entrevistar cada um dos funcionários responsáveis pela declaração de impostos do grupo.O editor-geral adjunto do jornal, Ricardo Roa, disse que o grupo recebeu a garantia do diretor da Receita, Ricardo Echegaray, de que nenhuma operação específica havia sido autorizada, quase todos os homens da Receita foram autorizados a entrar no setor de contabilidade da empresa . Por cerca de uma hora, os fiscais reviraram e levaram livros contábeis e conversaram com funcionários do setor. A princípio, segundo o grupo, nenhuma irregularidade ou autuação foi relatada.IMITAÇÃO"A verdade é que os Kirchners estão ficando muito parecidos com (o presidente venezuelano, Hugo) Chávez", declarou Roa, referindo-se ao contínuo assédio do líder bolivariano aos meios de comunicação de seu país. "Num caso como esse, a comparação com Chávez é inevitável."Roa afirma que o normal nesse tipo de operação é a participação de quatro a seis agentes. Nunca 200."Eu não sei como nem quando isso vai terminar", declarou o caricaturista Sábat, que no ano passado, no auge do confronto entre a presidente Cristina Kirchner e líderes ruralistas, foi chamado de "semimafioso" pela líder."O problema é que esse pessoal é pragmático", prossegue Sábat. "Fico preocupado não por mim, mas por minha mulher, filhos e netos."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.