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Ações ilusórias

Não há consenso internacional para conter o Isil

Por SOMINI e SENGUPTA
Atualização:

Seus combatentes se apoderaram de campos de petróleo, controlaram recursos hídricos e confiscaram artilharia pesada que os EUA forneceram a um governo amigo no Iraque. No fim de julho, eles decapitaram soldados sírios, expuseram suas cabeças e publicaram fotos delas online. Nos últimos cinco dias, eles arrastaram o Exército libanês para a luta pelo controle de uma cidade fronteiriça, sua primeira incursão territorial no Líbano. O grupo, Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Isil, na sigla em inglês), atraiu combatentes de todo o globo. A cooperação internacional para conter a ascensão dessa organização até agora se mostrou ilusória, apesar de sua influência ter ferido os interesses de potências mundiais e complicado as rivalidades regionais entre Arábia Saudita, Turquia e Irã. Entre suas últimas vítimas estão membros de um grupo minoritário iraquiano, os yazidis, que vinham se escondendo nas montanhas.Michael Stephens, um vice-diretor do grupo de análise de defesa do Royal United Services Institute, organização de pesquisa com sede em Londres, acredita que o fato de EUA e Europa apoiarem entusiasticamente o governo iraquiano dominado por xiitas é problemático porque envia a mensagem errada a seus aliados do Golfo Pérsico dominados por sunitas.Apoiar o governo do presidente sírio, Bashar Assad, no combate que faz a seus adversários do Isil é impossível, em razão dos esforços para depô-lo nos três últimos anos. Em junho, a Casa Branca anunciou US$ 500 milhões de ajuda adicional aos rebeldes moderados na Síria, enquanto advertia para os perigos de armas caírem em mãos erradas. No fim do ano passado, ela enviou armas ao Iraque.Analistas da região dizem que até recentemente o governo Assad não havia dedicado muita energia ou poder de fogo para combater o Isil, sobretudo porque os dois desejam afastar outros grupos rebeldes. Agora, depois de terem se poupado, as forças do Isil e de Assad estão se confrontando cada vez mais."Com Irã e Arábia Saudita envolvidos numa guerra por procuração na Síria, a Arábia Saudita competindo com Catar e Turquia por influência em toda a região, e os curdos - eles próprios não muito unidos - se inclinando cada vez mais para a independência, não é realista esperar o surgimento de uma estratégia coerente para enfrentar o Isil", disse Noah Bonsey, especialista em Síria no International Crisis Group. "Os EUA têm a influência e a capacidade para construir parcerias capazes de reverter os ganhos do Isil, mas parece não ter a visão e a vontade necessárias." O Isil não ameaça somente o Iraque e a Síria. Ele atraiu combatentes de países tão distantes como Índia e China, Bélgica e Grã-Bretanha.Especialistas da ONU disseram que combatentes de grupos jihadistas rivais, mesmo da Frente Al-Nusra, uma afiliada da Al-Qaeda, desertaram para se unir ao Isil porque ele possui mais dinheiro e armas. Analistas militares dizem que é extremamente difícil neutralizar um grupo que agora se autofinancia - ele controla vários campos de petróleo no Iraque e na Síria - e está pesadamente armado com armas capturadas de bases militares iraquianas e sírias. Autoridades americanas disseram que o Iraque não tem uma força militar capaz de recuperar o território perdido para o Isil.Os EUA têm muita razão de se preocupar, disse Julia McQuaid, uma analista no Centro de Análises Navais em Arlington, Virgínia, e não só porque recrutas ocidentais do grupo podem voltar para casa e causar distúrbios.O Isil propõe a ideia de um "califado" sunita que, por definição, põe em risco as fronteiras de Estados-nação. "Embora deva haver poucos temores de algum movimento jihadista conseguir estabelecer um califado global sob a sua bandeira, o modelo do Isil pode ter implicações profundas no ambiente de segurança de outros países", disse McQuaid. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK É JORNALISTA

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