Acordo de armas biológicas segue agenda imposta pelos EUA

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Por Agencia Estado
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Os Estados Unidos aplicam mais um golpe na comunidade internacional. Hoje, na sede da ONU em Genebra, os diplomatas da Casa Branca conseguiram "convencer" os demais países a aceitar um programa de trabalho sobre armas químicas que não abre qualquer possibilidade de se verificar quem produz esse tipo de armamento. Além disso, o acordo não atende a interesses dos países em desenvolvimento, como o Brasil. A Convenção de Armas Biológicas, que estava reunida desde o início da semana, adotou uma agenda de trabalho para os próximos três anos baseada na própria agenda do presidente George W. Bush. Teoricamente, porém, o autor da proposta da agenda foi o presidente das negociações da Convenção de Armas Biológicas, o húngaro Tibor Toth. Há um ano, os norte-americanos anunciaram que não aceitariam a criação de um mecanismo internacional que fiscalizasse a produção de armas biológicas. Segundo a Casa Branca, uma verificação internacional poderia prejudicar os segredos comerciais das empresas farmacêuticas. Mas muitos acreditam que o real motivo dos norte-americanos é o temor de que seus programas sejam revelados pelas inspeções internacionais. Diante da posição adotada pelos Estados Unidos, todo o esforço da comunidade internacional concentrou-se em evitar que Washington abandonasse as negociações e colocasse os últimos pregos no caixão dos acordos de desarmamento da ONU. "Nosso objetivo foi manter o multilateralismo vivo", afirmou um diplomata europeu. Para isso, a comunidade internacional concordou em adotar uma agenda que tem como objetivo incentivar os países a adotar legislações nacionais que penalizem aqueles que sejam pegos produzindo armas biológicas, uma proposta dos Estados Unidos. A agenda prevê também um código de conduta para cientistas e o debate sobre medidas de segurança interna para evitar que as populações estejam vulneráveis aos ataques biológicos, todos pontos "sugeridos" pela Casa Branca. O Brasil foi um dos países que se opôs ao acordo, e se negou a defendê-lo publicamente. "O que estamos vendo não é a preservação dos valores multilaterais, mas do multilateralismo seletivo, no qual apenas os interesses de alguns países são defendidos ", afirmou um diplomata brasileiro ao final da conferência. Segundo ele, a agenda não inclui qualquer tema de transferência de tecnologia, nem de cooperação entre os países. Tanto o presidente das negociações como os países europeus pediram, nos últimos dias, para que o Brasil apoiasse o texto do acordo, o que não foi seguido pelo Itamaraty. Mesmo assim, o País acabou votando com a maioria, pela adoção da nova agenda.

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