Acordo é 'concessão máxima', diz enviado do Irã à AIEA

Embaixador diz à 'BBC' que proposta levada à agência da ONU é oportunidade única para Ocidente

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Por Barbara Plett
Atualização:

NOVA YORK - O Irã afirma que a proposta de acordo apresentada à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para obter combustível nuclear enriquecido no exterior é uma "concessão máxima" que mostra que o país está pronto para dar início a um novo capítulo de cooperação com o Ocidente.

 

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O embaixador iraniano na AIEA pediu ao Conselho de Segurança da ONU que responda positivamente à carta formalizando a proposta, entregue na segunda-feira. Ali Asghar Soltanieh falou com a BBC no dia em que a carta - com os detalhes do acordo mediado pelo Brasil e pela Turquia - foi entregue à agência nuclear da ONU. O enviado do Irã à AIEA disse que esta é uma "concessão máxima" e pediu ao Grupo de Viena que "aproveite esta oportunidade única" para negociar os detalhes técnicos do acordo. "Tenho certeza de que eles vão adotar as ações corretas e mudar a postura de confrontação, resoluções e sanções... então, acho que abriremos um novo capítulo de cooperação", afirmou. Mas algumas potências ocidentais afirmam que o acordo veio tarde demais e os países membros do Conselho de Segurança da ONU esboçaram, na semana passada, um novo pacote de sanções contra o Irã por causa de seu programa nuclear. Remoção de urânio Um acordo envolvendo a troca de combustível foi proposto pela primeira vez pela AIEA em outubro passado em conjunto com os EUA, França e Rússia (o chamado Grupo de Viena), em nome das seis potências mundiais que acreditam que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares (EUA, França, Rússia, China, Alemanha e Reuni Unido). O acordo prevê a troca de 1,2 tonelada de urânio com baixo grau de enriquecimento (3,5%) do Irã por urânio com grau maior de enriquecimento (20%) vindo do exterior para ser usado como combustível em um reator nuclear em Teerã, construído anos atrás pelos Estados Unidos para pesquisas médicas.

 

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Nos últimos oito meses, o Irã tentou mudar os termos deste acordo e, no último dia 17 de maio, anunciou seu compromisso em transferir o urânio, depois de intensa mediação do Brasil e da Turquia. O novo elemento do acordo em relação ao que estava na mesa em outubro é que o urânio com baixo grau de enriquecimento iraniano seria depositado na Turquia como garantia de que o país receberia o combustível para seu reator. 'Concessão máxima' "Não teremos certeza, a não ser que este combustível esteja dentro do reator, de que a troca realmente vá acontecer", disse Soltanieh, indicando as suspeitas que permanecem no Irã desde que os EUA deixaram de cumprir uma série de contratos nucleares com o país depois da Revolução Islâmica, em 1979. Uma vez que o Irã receber o combustível, o "depósito" seria enviado ao país que tiver fornecido o urânio com maior grau de enriquecimento, possivelmente a Rússia, disse ele. O enviado do Irã à AIEA afirmou que esta é uma "concessão máxima" e pediu ao Grupo de Viena que "aproveite esta oportunidade única" para negociar os detalhes técnicos do acordo. "Tenho certeza de que eles vão adotar as ações corretas e mudar a postura de confrontação, resoluções e sanções... então, acho que abriremos um novo capítulo de cooperação", afirmou. Suspeitas ocidentais Mas os países ocidentais afirmam que a troca de combustível perdeu valor como forma de aumentar a confiança no Irã, porque os estoques de urânio no país cresceram desde outubro, e porque, em fevereiro, o país decidiu aumentar o grau de enriquecimento de urânio para 20%. Os países ocidentais temem que, ao desenvolver a tecnologia de enriquecimento, o Irã possa chegar a produzir urânio enriquecido em 90%, o grau necessário para a construção de armas nucleares. Liderados pelos EUA, eles discutiram uma nova rodada de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança. O acordo mediado pelo Brasil e pela Turquia foi visto por estes países como uma tentativa de Teerã de evitar as sanções. Para os diplomatas ocidentais, a principal questão é que o Irã continua a enriquecer urânio, desafiando as resoluções da ONU. Eles se referem às declarações da AIEA de que a falta de cooperação iraniana não permite que a agência confirme se as intenções do programa nuclear do país são pacíficas, como Teerã alega. Soltanieh, no entanto, deixou claro que o fim do enriquecimento de urânio no Irã não pode ser o ponto de partida das negociações. Resoluções da ONU como esta "não são possíveis, não são implementáveis" disse ele, defendendo o que chama de direito do Irã, como país membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP, de produzir combustível nuclear para fins pacíficos, e sugerindo que o governo iraniano pode reconsiderar o acordo de troca de combustível se o Conselho de Segurança da ONU votar a favor das sanções. Em vez disso, ele pediu aos dois lados que "abram uma nova avenida para construção de confiança mútua", afirmando que "tem havido um sério déficit de confiança nos últimos 30 anos".

 

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