Acordo entre forças pró-Assad e curdos reorganiza alianças na guerra da Síria 

Após acordo, tropas que apoiam o presidente entram em várias cidades do norte sírio e começam a assumir segurança da região

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Por Redação
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ISTAMBUL  - Forças leais ao presidente sírio, Bashar Assad, entraram nesta segunda-feira, 14, em várias cidades do nordeste da Síria após acordo com combatentes curdos para fazer frente à invasão turca. O avanço de Assad, após a retirada das tropas dos EUA da região, altera novamente as alianças em constante mutação nos oito anos da guerra civil na Síria.

O governo sírio tem sido quase totalmente ausente no nordeste desde que se retirou ou foi expulso por rebeldes nos últimos anos. As Forças Democráticas da Síria (FDS), a milícia curda que atuava ao lado dos EUA no combate ao Estado Islâmico, tornou-se desde então a força política predominante da região. 

Moradores de Tal Tamr, no nordeste sírio, deu as boas-vindas às tropas pró-Assad Foto: Delil Souleiman/AFP

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Ainda que os curdos sírios nunca tenham declarado o governo de Assad como inimigo, o presidente sírio via com desconfiança seu objetivo de ter um governo autônomo e prometia retomar a autoridade sobre o território. Com as tropas americanas na região, porém, isso era praticamente impossível. 

A decisão do presidente Donald Trump, na semana passada, de retirar as tropas americanas para deixar o caminho livre para a invasão da Turquia – que considera as milícias curdas “terroristas” ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – acabou dando uma abertura ao governo sírio. 

Caminhões com soldados sírios começaram a chegar hoje e a assumir posições na região. Em algumas cidades, eles foram recebidos por moradores que entoavam slogans nacionalistas e seguravam fotos de Assad. Uma delas é Tel Tamer, um local estratégico que conecta o nordeste sírio à principal cidade do norte, Alepo, e fica a 32 km de Ras al-Ain, centro do ataque turco. 

Se as forças do governo sírio conseguirem alcançar a fronteira da Turquia, ao norte, e a do Iraque, ao leste, será um grande avanço na busca de Assad para restabelecer seu controle sobre toda a Síria.

O acordo foi feito para permitir que as forças sírias assumam a segurança de áreas fronteiriças, enquanto os curdos mantêm o controle de instituições locais. Enquanto isso, as forças pró-Turquia, que operam sob o Exército Nacional Sírio (ENS), uma facção rebelde integrante da oposição a Assad, iniciaram hoje uma operação para tomar a cidade de Manbij das milícias curdas.

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Em meio ao rearranjo de forças, fontes locais informaram que cerca de 500 simpatizantes do grupo terrorista Estado Islâmico, detidos sob a tutela curda, escaparam das prisões durante os bombardeios. Hoje, sem oferecer evidências, Trump sugeriu que forças curdas libertaram alguns dos prisioneiros do EI de propósito, para tentar impedir que as forças americanas deixem a região. “Vocês realmente acreditam que entraremos em outra guerra contra a Turquia, que é membro da Otan? As guerras sem fim terminaram”, disse Trump.

Os EUA se disseram hoje chocados com a execução de civis por parte de combatentes pró-Turquia na Síria, incluindo uma política curda. As Forças Democráticas Sírias informaram que ao menos nove civis foram “executados” como parte da invasão que a Turquia lançou na semana passada. 

Monarquia saudita está preocupada

Ao falar publicamente pela primeira vez sobre a retirada das tropas americanas, um diplomata da Arábia Saudita, o príncipe Khalid bin Bandar bin Sultan, novo embaixador em Londres, disse que a decisão de Trump é um desastre para a região. 

O diplomata disse que a monarquia sunita está preocupada com as consequências disso. Riad está em uma nova fase de tensão com o Irã – principal aliado de Assad na região. “A última coisa que precisamos na região é outro ponto de caos, e acho que acabamos de conseguir um”, disse o príncipe, em um atípico tom crítico para diplomatas. 

Ao mesmo tempo, Khalid lembrou que Trump concordou esta semana em enviar tropas americanas e baterias de mísseis para a Arábia Saudita para ajudar na defesa do país. A decisão foi tomada após o ataque à principal instalação de produção de petróleo saudita, reivindicado pela milícia xiita houtis, do Iêmen, outro grupo alinhado ao Irã. 

“A Rússia (que apoia as forças de Assad) está se tornando um importante elemento na região, gostemos disso ou não. Os russos certamente entendem o Oriente melhor do que o Ocidente (entende).”/ NYT e W. POST 

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