Acordo entre Rússia e Iraque é recado para os EUA

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Por Agencia Estado
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O governo russo insistiu hoje em afirmar que seu acordo comercial de 10 anos com o Iraque vem sendo trabalhado há anos e não deveria causar alarme, mas um destacado analista político acredita que o momento do negócio visa a enviar uma mensagem política aos Estados Unidos. ?Talvez seja inteligente, certamente é esperto?, disse Georgy Mirsky, analista político do Instituto de Relações Econômicas e Internacionais, à Rádio Echo, de Moscou. Ele avalia que o anúncio - feito no momento em que Washington busca apoio para uma possível invasão do Iraque - seja uma tentativa de deixar claro para o presidente dos EUA, George W. Bush, que apesar de a Rússia ter se transformado num parceiro, Moscou tem interesses próprios e está preparado para lutar por eles. "Por que foi anunciado agora? Por que não antes?", questionou Mirsky. "Existe uma relação". O Ministério do Exterior russo confirmou que está negociando com o Iraque um acordo comercial de 10 anos, que contempla nova cooperação em petróleo, agricultura, transportes, ferrovias e energia elétrica. O embaixador iraquiano na Rússia, Abbas Khalaf, afirmou que o acordo envolve US$ 40 bilhões, mas Moscou recusou-se a confirmar o número. A Rússia tem se oposto firmemente a qualquer ação unilateral americana no Iraque, mas o jornal Kommersant, de Moscou, escreveu que o proposto acordo iraquiano-russo aumentaria os riscos de tal ação, particularmente se dezenas de especialistas russos forem ao Iraque para trabalhar em projetos econômicos. "É suficiente dizer que bombardear cidadãos de um país que é um dos membros da coalizão global antiterrorista não seria algo tão simples para Washington", considerou o jornal. Autoridades russas tentaram minimizar hoje a importância do acordo, dizendo que ele já havia sido "publicamente" anunciado mais de um ano atrás. O porta-voz do Ministério do Exterior, Boris Malakhov, garantiu que o negócio "definitivamente não contraria" as sanções da ONU impostas ao Iraque. As sanções da ONU, determinadas depois que o Iraque invadiu o Kuwait em 1990, não podem ser suspensas até que inspetores da ONU certifiquem que as armas biológicas, químicas e nucleares do Iraque foram destruídas, junto com os mísseis de longo alcance que podem transportá-las. "A Rússia, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, respeita estritamente suas obrigações internacionais", disse Malakhov. "Isso se aplica, naturalmente, ao Iraque". Autoridades russas não informaram quando o possível acordo seria assinado. "No momento, começamos a definir os últimos detalhes", explicou Malakhov. Khalaf havia dito anteriormente que o acordo deveria ser assinado no mês que vem. Mirsky expressou ceticismo quanto à materialização do negócio, mas, para ele, o Kremlin está fazendo um jogo político inteligente, buscando o apoio árabe para sua posição. Entretanto, o analista Vyacheslav Nikonov, presidente da Fundação Politika, avaliou que a Rússia está cometendo um erro. "Para a Rússia, relações estratégicas com os EUA são muito mais importantes do que as relações com o Iraque, e portanto não faz sentido desafiar tão abertamente Washington sem qualquer resultado visível", opinou.

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