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Acordo não implica reconhecimento de Israel, diz Hamas

Segundo fontes palestinas ouvidas pela BBC, acordo entre facções palestinas não faz menção a existência de Israel

Por Agencia Estado
Atualização:

Os grupos rivais palestinos Hamas e Fatah chegaram nesta terça-feira a um acordo que deve brecar os crescentes enfrentamentos entre as duas facções. O documento final, no entanto, não deve mencionar o direito de existência de Israel, ao contrário do que havia sido noticiado horas da mais cedo. Isso porque, embora o texto não tenha sido publicado na íntegra, os rascunhos obtidos pela rede de TV britânica BBC não falam na criação de um Estado palestino paralelo ao Estado israelense. Segundo o correspondente da BBC James Reynolds, o manifesto está centrado na criação da nação palestina na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Esta seria a primeira metade do "Plano dos Prisioneiros", uma solução para o conflito palestino-israelense que leva em consideração a existência de dois estados paralelos na região. O problema, explica o correspondente, é que a outra metade do plano - o reconhecimento de Israel - não foi mencionado nos rascunhos. Ainda segundo Reynolds, a omissão é proposital. Embora muitos tenham argumentado que o acordo implicaria na aceitação de Israel, está cada vez mais claro que não é desta forma que o Hamas vê o documento. De acordo com negociadores do grupo islâmico ouvidos pela BBC, o Estado de Israel foi criado em território palestino ocupado. Por isso, argumentam os líderes da facção, um Estado palestino na Cisjordânia e Faixa de Gaza seria apenas o primeiro passo para que as futuras gerações reivindiquem um estado que abranja toda a região - inclusive os territórios onde está Israel. Segundo o ministro palestino Abdul Rahman Zidan, o documento não reconhece em nenhum momento Israel. "Não há acordo entre os palestinos em relação a este ponto específico. Você não encontrará no documento uma única palavra que indique o reconhecimento de Israel. Ninguém concordou com isto. Isto não esta estava sobre a mesa e não estava no diálogo", disse. Paralelamente, o acordo foi ofuscado pela crise gerada pelo seqüestro de um soldado israelense por militantes palestinos. O acordo Ainda assim, o acordo foi comemorado por membros das duas facções. "Nós temos um acordo sobre o documento", anunciou Ibrahim Abu Naja, um dos coordenadores do diálogo nacional sobre o Plano dos Prisioneiros. Segundo ele, o documento será apresentado ao presidente da Autoridade Palestina (AP) e líder da Fatah, Mahmoud Abbas, e ao primeiro-ministro da AP, Ismail Haniye, do Hamas. Naja ressaltou que não há pontos pendentes, pois "todos assinaram e aprovaram o documento". Nas últimas semanas, Abbas vinha tentando convencer o Hamas a endossar o documento, desenvolvido por líderes palestinos detidos por Israel. Para o presidente da AP, o plano servirá para cancelar as sanções econômicas contra o governo palestino liderado pelo Hamas e pavimentará o caminho para a reabertura das negociações de paz com Israel. O reconhecimento do Estado de Israel é um ponto ao qual o Hamas, facção que controla o governo palestino, sempre se opôs. Em seu estatuto, o grupo, responsável pela morte de centenas de israelenses, prega a destruição do Estado judeu. O plano Inicialmente, o "Plano dos Prisioneiros" previa a criação de um Estado palestino nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967, o que implicaria no reconhecimento do Estado israelense. Com as informações divulgadas pela BBC, no entanto, ainda não está claro como o grupo tratará esta questão. Além disso, o plano previa a aceitação de uma proposta apoiada pela Liga Árabe em 2002 que propõe a criação de laços com Israel. Por fim, também pede que os militantes palestinos limitem seus ataques às áreas anexadas por Israel em 1967 e convocou todos os partidos a formarem um governo de unidade nacional. "Este é um momento histórico para o povo palestino", disse o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri. Alvo de intensas disputas entre as duas facções rivais palestinas, o diálogo nacional e o plano dos prisioneiros tinham como objetivo alcançar uma plataforma política comum que pusesse fim à violência entre os grupos e ao boicote internacional contra o governo do Hamas, por sua rejeição a reconhecer o direito de Israel a existir. O Hamas chegou ao poder em eleições democráticas em janeiro passado, provocando a suspensão da ajuda dos Estados Unidos e da União Européia, que consideram o grupo uma organização terrorista.

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