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Adolescente brasileiro serve no Exército libanês

O paulista Bilal Majzoub, de 16 anos, estava no país e foi convocado

Por Agencia Estado
Atualização:

O comerciante Sleiman Mohamad, de 47 anos, não consegue dormir nem comer direito nos últimos dias. O filho dele, o brasileiro Bilal Majzoub, está no Líbano. Essa seria uma história parecida com muitas outras, não fossem dois agravantes: o rapaz é menor de idade e está no Exército libanês. "Desde criança, ele e os irmãos sempre vinham brincar aqui", recorda-se Cássia Luciane, dona de uma loja de móveis em São Bernardo do Campo e amiga da família. Bilal nasceu em Diadema, no dia 7 de dezembro de 1989, como comprova sua certidão. Há dois anos, o pai mandou o filho estudar no Líbano. "Eu gosto de lá e gosto daqui", diz Sleiman. Ao solicitar o visto permanente, a idade do rapaz foi aumentada em três anos, por um erro do consulado. Por causa desse engano, o Exército libanês convocou Bilal para seis meses de serviço obrigatório. "No começo ele se desesperou", lembra o pai, "mas, depois se apresentou, com medo que fossem atrás dele". Bilal serve há dois meses. "Nesse tempo, ele já foi internado três vezes, por causa dos treinamentos. Ele não agüenta." O rapaz é filho de Sleiman, nascido em Ghazze, no sul do Líbano, com Samira Ahmad, de 42 anos. A mãe estava com os dois filhos menores na cidade natal do marido quando o conflito entre o Hezbollah e Israel começou. Anteontem, eles tiveram que deixar o país com medo de mais ataques e agora estão em Damasco, capital síria. A mãe custou a deixar o país em guerra, com medo de deixar o filho sozinho no Exército. "Ela falou com ele há cinco dias. Morreram vários do batalhão dele, que foi atacado por Israel", diz Sleiman. A esposa apelou para o marido encontrar uma solução rápido. "Pelo amor de Deus, foge com seu filho daqui", disse ela para o marido. O pai tem tentado tirar o filho menor de idade do Exército. Ontem, em uma reunião com o cônsul do Líbano em São Paulo, Walid Minkara, houve a promessa de corrigir o engano o mais rápido possível. O cônsul não foi encontrado para comentar a questão. Enquanto isso, Sleiman espera. "Estou pensando em ir para o Líbano, mas queria resolver a situação aqui. Não quero tirar ele de lá como um foragido", diz o pai. "Se ele fosse maior de idade, não teria problema, a cabeça é dele. Mas eu sou responsável por ele." Tragédias A vida de Sleiman foi marcada por outras tragédias. Ele migrou para o Brasil em 1976, mas mantém a cidadania libanesa e vive entre os dois países, apesar da família ser brasileira. Em 1985, Mohamad, seu filho de 5 anos, morreu após pisar em um explosivo lançado por Israel. Outro filho, Amar, de 12 anos, morreu em 1990, atingido por uma bomba quando voltava da escola. Agora, Sleiman enfrenta a perspectiva de perder um terceiro filho por causa do conflito entre o Líbano e Israel. "Precisa destruir o país todinho por causa de dois soldados?"

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