TEXAS - "Um processo caótico", "uma loucura". Com muito trabalho em razão do impacto da política de separação familiar, que deixou mais de 2.300 crianças imigrantes separadas de seus pais na fronteira com o México antes de ter o fim decretado pelo presidente Donald Trump, advogados trabalham como "detetives particulares" para reunir as famílias e denunciam a falta de planejamento do governo americano.
Várias organizações defendem legalmente e de maneira gratuita menores de idade sem documentos que entram sozinhos nos EUA pela fronteira sul. E os grupos dizem estar sobrecarregados. "Estamos lutando muito para atender às necessidades dessas crianças" e dos menores que chegam realmente sozinhos aos EUA"com necessidades tremendamente complexas", explicou a presidente da KIND, Wendy Young.
+ EUA se preparam para abrigar até 20 mil crianças imigrantes em bases militares
Os milhares de menores de idade que chegam ao país sem documentos todos os anos não têm direito a um defensor público. Se não encontrarem ajuda legal gratuita ou não puderem pagar, precisam defender a si próprios nos tribunais. Wendy assegurou que o governo não tem um plano para se assegurar de que as famílias separadas possam se comunicar ou se reunir em breve. "Continua sendo um sistema caótico", afirmou.
+ Detido, Brasileiro está separado do filho há 26 dias nos EUA
"Sinto que meus serviços legais se tornaram como os de detetives privados, tentando ligar os pontos com a pouca informação que temos, podem ser os nomes das crianças, a data de nascimento (...), mas às vezes os dados estão incorretos." A diretora para direitos dos imigrantes na Comissão de Mulheres Refugiadas, Michelle Brané, chamou a falta de planos de reunificação de "loucura" e relatou as dificuldades para conectar pais e filhos quando estes são pequenos.
+ ONG denuncia abusos sexuais em abrigos para filhos de imigrantes nos EUA
"Às vezes, eles não sabem seu nome completo e só são registrados com o apelido", contou, relatando o caso de uma menina registrada como menor de dois anos, que usava fralda, falava quiché, uma língua maia, e ninguém a entendia. Depois de muito trabalho, Brané descobriu que ela tinha na verdade quatro anos. Seu nome era outro e sua tia estava detida "no mesmo centro, trancada em outra jaula".
Alan Shapiro, médico da Academia Americana de Pediatria, disse ter visto em centros de detenção crianças com atraso de desenvolvimento, que antes falavam e agora não falam, que estão ansiosas e retraídas. Disse que o pior caso que viu foi o de um menino "mordendo o braço, como um comportamento de automutilação", e descreveu as condições "realmente duras" com crianças em jaulas, que passam frio e com comida de má qualidade e atendimento médico quase inexistente. Trump advertiu que a "tolerância zero" contra a imigração ilegal continua. / AFP