Afastamento da OEA agrava crise na Venezuela

José Luiz Machado e Costa, embaixador brasileiro na organização, defende que melhor alternativa é manter aberto o canal diplomático com Caracas

PUBLICIDADE

Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - O afastamento da Venezuela da Organização dos Estados Americanos (OEA) pode agravar a situação do país e cortar seus canais de diálogo com o restante da região, disse ao Estado o embaixador do Brasil na instituição, José Luiz Machado e Costa. “O que está ruim poderia ficar pior”, disse.

O brasileiro criticou o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que na semana passada invocou a Carta Democrática Interamericana para o caso da Venezuela. Se aprovada, a medida pode levar à suspensão do país.

Em relatório, secretário-geral da OEA, Luis Almagro, pede que Conselho Permanente avalie uso de Carta Democrática contra Venezuela Foto: AP Photo/Jacquelyn Martin, File

PUBLICIDADE

“O secretário-geral não atua de forma consultiva e toma atitudes individualistas, que não correspondem ao princípio da gradualidade nem respeitam os tempos diplomáticos”, disse Costa. “Os tempos da diplomacia não são os da política, os da imprensa e muito menos os do Twitter.” Almagro é um assíduo usuário das redes sociais e muitos dos membros da OEA tomam conhecimento de suas decisões por seus posts.

Na quarta-feira, os 34 Estados da OEA aprovaram por unanimidade uma declaração que defende o diálogo na Venezuela. O texto foi votado pelo Conselho Permanente e teve apoio de Washington e Caracas, que costumam estar em lados opostos na organização.

O documento não prevê nenhuma ação concreta, mas a aprovação foi apresentada como vitória tanto por Nicolás Maduro quanto pelo líder opositor Henrique Capriles. “A resolução exorta o governo a respeitar a Constituição e os direitos humanos”, afirmou Capriles.

Mesmo com a aprovação, o Conselho Permanente terá de analisar o pedido de aplicação da Carta Democrática feito por Almagro. O mais provável é que isso ocorra depois da Assembleia-Geral da OEA, que reunirá os chanceleres entre os dias 13 e 15 na República Dominicana. A crise não faz parte da agenda oficial, mas será discutida em reunião informal.

Para avançar, a solicitação de Almagro tem de ter os votos de 18 dos 34 membros da OEA. A suspensão só pode ser aplicada se houver dois terços dos votos. A menos que a situação se deteriore rapidamente, é pouco provável que Almagro tenha apoio necessário. “Com a declaração, os Estados da OEA disseram que estão preocupados com a Venezuela e os canais de diálogo devem ser fortalecidos”, disse Costa. “A manifestação mostra que os países estão coesos na opção pela diplomacia.”

Publicidade