Afegãos duvidam de diálogo com Taleban

Para eles, ideia de Obama de negociar com ''moderados'' seria impraticável

PUBLICIDADE

Por NYT e THE GUARDIAN E REUTERS
Atualização:

Considerada em Washington a principal "carta na manga" do presidente Barack Obama para conter a violência no Afeganistão, a estratégia de dialogar com partes tidas como "moderadas" do Taleban tem sido duramente criticada por analistas e líderes afegãos. A explicação é que o corrupto governo de Hamid Karzai e a falta de interlocutores do lado dos taleban minariam qualquer diálogo. "Parte do sucesso no Iraque envolveu aceitar pessoas que considerávamos fundamentalistas islâmicos, mas que desejavam trabalhar conosco contra a Al-Qaeda", explicou Obama em entrevista a The New York Times. "Pode haver uma oportunidade semelhante no Afeganistão e no Paquistão." Ex-ministro das Finanças e candidato à presidência, Ashraf Ghani discorda. Ele disse que a falta de legitimidade do governo Karzai e o fortalecimento do Taleban nos últimos meses impossibilitam qualquer negociação real. "Nunca ouvi falar de um processo de paz firmado, com sucesso, em uma posição de fraqueza", declarou. Ao jornal britânico The Guardian, o porta-voz do Taleban Qari Yusuf Ahmadi concordou com Ghani, afirmando que a abertura diplomática americana em si já era um sinal de que Washington está mais fraco do que nunca. "(Os EUA) dizem querer negociar com taleban moderados, mas eles não vão conseguir encontrar essas pessoas. Lutamos todos, unidos, por um Estado islâmico no Afeganistão", afirmou. "?Taleban moderado? equivale a dizer ?assassino moderado?. Pode existir algo assim?", disse o escritor afegão Qaseem Akhgar. O retorno de um Estado fundamentalista ao Afeganistão - principal objetivo dos militantes - iria contra os objetivos ocidentais na região. "Os comentários de Obama parecem fazer parte de ficção, não da realidade", afirmou Waheed Mozhdad, ex-funcionário tanto do governo do Taleban, quanto do de Karzai. "Onde estão esses tais taleban ?moderados?? Quem são eles, afinal?", questionou Mozhdad. Para ele, a chave para reduzir a violência não estaria com "moderados", mas com os líderes diariamente caçados pelas forças americanas. "Comandantes taleban estão por trás da insurgência, não os chamados ?moderados?. Para colocar um ponto final na guerra é preciso incluí-los nas negociações. Eles devem ser ouvidos", explicou. "Esses nomes devem sair da lista americana de procurados. São eles as fontes do atual problema." Na entrevista, Obama reconheceu que a luta afegã é "mais complexa" do que a iraquiana. Mas a estratégia dos EUA teria o mesmo princípio: atrair os radicais e isolar a Al-Qaeda.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.