PUBLICIDADE

Afegãos ignoram valor da recompensa por Bin Laden

Por Agencia Estado
Atualização:

Ahmed Samir, de 14 anos, pensa alegremente sobre a enorme recompensa oferecida por Osama bin Laden. Depois de um tempo, ele calcula: US$ 25 milhões seriam suficientes para sustentar sua família pelos próximos 10 anos. Mohammed Agha, um vendedor de balões de 18 anos, é menos otimista. Se ele capturasse o homem mais procurado do mundo, imagina, os US$ 25 milhões serviriam para comprar 100 balões de gás cujo custo real é de dois centavos de dólar. Muitos afegãos sentiram-se tentados quando ouviram a recompensa oferecida por George W. Bush pela cabeça de Bin Laden, mas poucos têm uma vaga noção de quanto vale a fortuna. Numa rápida pesquisa em Cabul, a maior parte das pessoas achava que o valor da recompensa seria suficiente para sustentá-las pelo resto da vida. Num país onde a renda média mensal é de apenas US$ 4, essas pessoas poderiam viver pelos próximos 500.000 anos - mantendo o estilo de vida precário, obviamente. Não é isso o que importa, é claro. Nenhum deles tem a esperança de pôr as mãos em Bin Laden. O bancário Attaullah Safi, de 27 anos, tem uma noção mais exata sobre a quantia oferecida. Ele acredita que a recompensa seja aproximadamente igual ao que o Taleban retirou do Banco Central do Afeganistão em dólares, afeganes e moedas européias quando fugiu de Kandahar em 13 de novembro. "Essa grana é uma fortuna inacreditável nessa dureza em que vivemos", comenta. "Se por acaso eu tivesse esse dinheiro, construiria fábricas e lojas para tirar das ruas essas pobres pessoas desempregadas." Numa velha ponte sobre o Rio Cabul, cambistas aceitaram a idéia de calcular a conversão da recompensa em moeda local. A maior nota - a de 10.000 afeganes - equivale a 25 centavos de dólar. Um deles, que se apresentou-se apenas como Attiqullah, puxou sua calculadora. Levando em consideração que o afegane está ganhando valor perante o dólar, comentou ele, a recompensa equivaleria a 950 bilhões de afeganes. Há alguns dias, ela estava na casa dos trilhões. "Milhões?", perguntou incrédulo um de seus colegas. "Não, não. Bilhões!", respondeu Attiqullah. "Certo, bilhões", concordava, ainda incrédulo, outro de seus amigos. Perguntado sobre se poderia trocar tantas cédulas, ele comparou: "A pilha de notas seria maior do que aquilo", afirmou ele ao apontar para o edifício de 18 andares da companhia energética local. A coleta de opiniões mostrou também que os afegãos não morrem de amores por Bin Laden e seus seguidores árabes. "Não diga o nome desse cara pra mim", disse Abdul Rahman, de 35 anos. "O dinheiro não é importante. Os valores humanos valem mais." Muitas pessoas levantaram um aspecto prático: se pegassem Bin Laden pelo dinheiro, fugiriam rapidamente do país, antes que seus simpatizantes pudessem reagir. O jovem Mohammed Agha vendia seus balões a poucos metros do centro de Cabul. Ele e seus amigos estavam numa discussão empolgada sobre a recompensa. Primeiro, Mohammed disse que o dinheiro serviria para ele comprar 100 balões, que ele compra a US$ 0,02 e vende por US$ 0,03. Um amigo seu grita em seguida: "Não seja burro, cara. Com esse dinheiro você compra pelo menos uns mil balões." Ainda pessimista, Mohammed pensa e revisa sua estimativa para 200 balões. Num mercado situado nas proximidades, Mohammed Asef, de 25 anos, sabe o quanto vale a recompensa e não gosta disso. "Não estou procurando por ele porque preciso achar comida primeiro", conta. "Vocês gastam todo esse dinheiro para capturar Osama e nós continuamos famintos." Leia o especial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.