Afegãos vão assumir segurança em sete áreas do país, diz Karzai

Anúncio do presidente dá início a processo de transição no Afeganistão, mas risco de insurgência persiste.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Afegãos não querem estrangeiros controlando a segurança, diz Karzai O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, revelou nesta terça-feira sete áreas de seu país que deixarão de ser controladas por tropas da Otan e passarão a mãos afegãs a partir de julho. O ato é considerado importante no processo de transição do poder militar no Afeganistão, que irá começar em julho nessas regiões e deve ser encerrado apenas em 2014. Karzai disse que suas forças de segurança assumirão as relativamente calmas províncias de Cabul, Panjshir e Bamiyan, as cidades de Herat, Mazar-e Sharif e Mehterlam e também a conturbada Lashkar Gah, capital da volátil província de Helmand, palco de algumas das maiores episódios de violência do conflito no país nos últimos anos. Em uma segunda fase, distritos ao redor das cidades mencionadas também passarão ao controle afegão, exceto o conturbado distrito de Surobi, na província de Cabul. Em todos esses locais, as tropas estrangeiras deverão abandonar o combate militar e se encarregar apenas do treinamento de oficiais afegãos. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, elogiou o anúncio de Karzai e disse que a ação "representa uma nova etapa na jornada afegã, mas não o fim". 'Tarefa difícil' Em seu anúncio, Karzai - que tem uma relação conturbada com seus aliados do Ocidente - disse que "tomar responsabilidade total sobre a governança, a segurança e a reconstrução do país não é uma tarefa fácil. Por um lado, sofremos com um legado de 30 anos de guerra; por outro, ainda há destruição e interferências". Segundo ele, "sabemos que o povo afegão não quer mais que a nossa defesa esteja nas mãos de outros e que os que nos ajudaram nos últimos dez anos não podem suportar mais sacrifícios por nossa segurança". Ele também instou os militantes radicais a "interromperem seus ataques e se unirem ao processo de paz". Mais de 2,7 mil civis foram mortos no Afeganistão em 2010 - quando os EUA intensificaram suas ações de combate no país -, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Além disso, mais de 800 soldados afegãos e 711 soldados estrangeiros morreram no país em 2010. Segundo um relatório da ONU, o Talebã foi responsável por 75% das mortes de civis. Riscos O correspondente da BBC em Helmand Quentin Sommerville relata que, ao mesmo tempo em que cresce o número de mortos na Guerra do Afeganistão - o ano passado foi o mais sangrento em quase uma década de combates -, o aumento na quantidade de tropas americanas e de policiais afegãos melhorou a segurança em diversas áreas do país. Ainda assim, o correspondente diz que a transição traz riscos. A atuação da polícia afegã é irregular, e muitos duvidam que ela seja capaz de conter novos levantes do Talebã, que pode tentar recuperar terreno assim que as tropas estrangeiras recuarem. As forças americanas no país informaram em um comunicado que coube ao Afeganistão decidir que iria assumir a responsabilidade sobre a segurança de algumas áreas. Entretanto, os locais foram escolhidos após avaliações conjuntas da Otan e das forças de segurança do país, diz a nota. Muhammad Ibrahim Chajirwal, morador da província de Helmand, disse à BBC Pashtu que está "ao mesmo tempo feliz e triste" com o anúncio de Karzai. "Não estou plenamente convencido de que nossas tropas serão capazes de cuidar do país. (Mas) estou feliz porque teremos nossa soberania." Já o policial Abdul Sattar, de Herat, se disse "totalmente preparado". "Vou fazer a segurança do país." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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