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África do Sul lembra motins de Soweto e o fim do apartheid

Há exatos 30 anos, estudantes protestavam contra a imposição do idioma afrikaans no ensino médio

Por Agencia Estado
Atualização:

A África do Sul lembra nesta sexta-feira o 30º aniversário dos motins de Soweto, os protestos violentos de resistência da população negra do país contra o regime segregacionista do apartheid. A cidade é vizinha de Johanesburgo. A data, que atualmente é comemorada como o "Dia da Juventude", lembra as manifestações organizadas em 16 de junho de 1976 pelos estudantes em protesto contra a imposição do idioma afrikaans no ensino médio. O afrikaans, um derivado do holandês, é a língua materna dos sul-africanos brancos e, durante a época do apartheid, era considerada pelos negros como a linguagem da dominação racial. História Uma lei que tornava obrigatório o estudo do afrikaans foi a gota d´água. Os estudantes negros do ensino básico e médio já protestavam desde 1975 contra o sistema da chamada "educação bantu", cuja qualidade era muito inferior ao ensino dos sul-africanos brancos. Há muitas versões sobre que ocorreu neste dia em Soweto, inclusive em relação ao número de mortos. As estimativas variam entre 4 e 600, segundo os diferentes relatos. Alguns dizem que a Polícia abriu fogo quando aproximadamente cinco mil estudantes que marchavam pelas ruas da cidade começaram a apedrejar os agentes de segurança. Outros afirmam que os policiais usaram primeiro o gás lacrimogêneo e que, só então, os jovens tentaram se defender com pedras. Na verdade, a Polícia tinha revólveres, fuzis e bombas de gás lacrimogêneo, enquanto os estudantes estavam desarmados. Vítimas A primeira vítima foi Hastings Ndlovu, que morreu no hospital horas depois de levar um tiro. O primeiro morto no local dos protestos foi o estudante Hector Pieterson, de 13 anos, cuja foto se transformou em um símbolo da brutalidade policial sul-africana. Na imagem, seu corpo aparece sendo levado por outro jovem e sua irmã Antoinette aparece correndo ao lado. Os motins de Soweto se repetiram em muitas outras das chamadas "cidades negras" da África do Sul e o movimento de libertação Congresso Nacional Africano (CNA, atualmente no poder) se uniu à revolta. Em 1977, os estudantes negros começaram a fazer provas em seus idiomas nativos. A violência de 1976 terminou com centenas de civis mortos, dezenas de edifícios administrativos incendiados, lojas saqueadas e vários funcionários do Governo assassinados pelas multidões. Em mensagem transmitida um mês depois dos motins pela "Radio Freedom", a direção do CNA, no exílio, definiu 1976 como "o ano das decisões" e pediu à população que "ampliasse, aprofundasse e generalizasse a ofensiva" com o intuito de atingir todos os grupos sociais com os quais eles compartilhavam o objetivo comum "de uma África do Sul democrática e não racial". Fim do apartheid A África do Sul começou a desmantelar lentamente o regime de apartheid somente a partir do final da década de 1980. No dia 17 de junho de 1991, o último presidente branco do país, Frederik Willem De Klerk, revogou as últimas leis que sustentavam o sistema segregacionista. O país se transformou em uma democracia no dia 27 de abril de 1994, quando foram realizadas as primeiras eleições multirraciais, nas quais se elegeu Nelson Mandela, o primeiro chefe de Estado sul-africano negro. Nas comemorações desta sexta-feira, que têm como lema "Era da esperança - Aprofundando a participação da juventude no desenvolvimento", milhares de sul-africanos marcharam por onde os estudantes passaram no dia 16 de junho de 1976. Mas, em vez de pedras nas mãos, eles levaram flores, que foram depositadas no memorial de Hector Pieterson.

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