África, nova área de expansão de grupos extremistas islâmicos

Nos últimos anos, continente se tornou a nova fronteira dos grupos extremistas, hábeis em criar raízes, aproveitando-se da fragilidade dos Estados

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Por Redação
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PARIS - Sahel, lago Chade, Somália, Sinai e agora Moçambique. Nos últimos anos, a África se tornou a nova fronteira dos grupos extremistas, hábeis em criar raízes, aproveitando-se da fragilidade dos Estados.

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Desde sábado, os extremistas controlam a cidade de Palma, no nordeste de Moçambique, a mais recente adversidade para um continente que se tornou uma prioridade para os grupos extremistas planetários.

Segundo o Soufan Center, um think tank americano independente, "se receber uma ajuda crescente da central do Estado Islâmico (EI), seja em dinheiro, ou experiência tática, (o grupo) pode continuar ganhando força (...) na região. Se conseguir se expandir geograficamente, pode atrair combatentes estrangeiros".

Moradores de Pemba aguardam pelo possível retorno de seus parentes retirados de Afungi e Palma após o ataque de forças armadas contra extremistas Foto: Alfredo Zuniga / AFP

A Al-Qaeda nasceu no Afeganistão, e o EI, entre o Iraque e a Síria, mas se descentralizaram, graças à lealdade que receberam de grupos armados que desfrutam de uma certa autonomia.

De acordo com um especialista em extremismo islâmico que pediu para não ser identificado e publica suas análises na conta do Twitter Mister_Q, a África representa apenas 16,5% das reivindicações dos ataques do EI desde janeiro de 2020.

No entanto, o que o EI considera como suas "províncias" na África Ocidental (ISWAP, nas siglas em inglês), Central (ISCAP) e no Sinai mobilizaram 38 das últimas 64 "capas" de seu jornal semanal de propaganda.

Apesar de oito anos de intervenção militar francesa, o EI e a Al-Qaeda têm franquias onipresentes no Sahel onde, sem dominar o território oficialmente, controlam as áreas desérticas abandonadas pelos Estados centrais.

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"Al-Qaeda e EI sofreram muitas baixas na última década", lembra Brenda Githing'u, analista de contraterrorismo baseada em Joanesburgo. "Hoje, suas filiais africanas contribuem para sua vontade de mostrar resistência por meio de uma expansão mundial".

Não é um 'Sahelistão'

A "assinatura" dos dois grandes grupos extremistas é enganosa. Nada indica que sejam pilotados de cima. Às vezes, presume-se que há transferências de dinheiro, mas eles não enviam armas, nem reforços de combatentes. Tampouco dão ordens militares.

Embora haja grupos ativos de leste a oeste do continente, dos somalis Al-Shabab até a Argélia, passando pela Líbia e pelo Sahel, com a intenção comprovada de avançar para o Golfo da Guiné, não se pode falar de um "Sahelistão", nem de um "califado" autoproclamado, como o que existiu entre Iraque e Síria de 2014 a 2019.

Em Moçambique, "o EI não fornece necessariamente armas, ou dinheiro. É mais um pertencimento ideológico", destaca Mister_Q.

Muitos grupos na África funcionam assim: os grupos estão unidos às hierarquias supremas por meio da lealdade de princípios, de uma comunicação centralizada e até mesmo de conselhos estratégicos. Não se trata, porém, de um funcionamento militar piramidal. "Não resta dúvida de que esses insurgentes locais integraram redes mundiais", explica à agência France Presse.

Agora, no entanto, estes grupos se contentam com objetivos imediatos, sem visão internacionalista.

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Independentemente do que os chanceleres ocidentais digam, os extremistas islâmicos da África nunca mostraram a intenção de cometer ataques na Europa, ou na América do Norte. Afirmar que a força antiextremista francesa Barkhane tem como objetivo proteger a França é, na verdade, uma hipótese, opinam os analistas./AFP 

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