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África quer usar Internet contra ditadura

Por Agencia Estado
Atualização:

A África tem na Internet uma nova e importante forma de luta contra os regimes autoritários que resistem no continente. Essa é a visão dos participantes da Conferência de Windhoek, promovida pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e que termina hoje na capital da Namíbia. Com os meios de comunicação geralmente sob rígido controle do Estado em vários países, a rede mundial de computadores é considerada uma das principais formas de livre circulação de informações. "O governo não pode controlar o que circula pela Internet como faz com rádios, TVs, jornais, telefones e até faxes. As informações e os e-mails são livres", afirma o jornalista Mwamba wa ba Mulamba, secretário da organização não-governamental Jornalistas em Perigo, da República do Congo. Pouco uso Implantada na África apenas entre 1995 e 1997, a rede mundial de computadores ainda é algo desconhecido para a imensa maioria dos habitantes do continente. Segundo dados do pesquisador e professor da Universidade de Columbia Leonard Sussman, 3,1 milhões de pessoas têm acesso à web nos 59 países africanos pesquisados, contra 154 milhões nos Estados Unidos, 113 milhões na Europa, 105 milhões na Ásia e 16,45 milhões de usuários na América Latina. Outro dado surpreendente, este divulgado pelo jornalista sul-africano Roland Steinbridge: apenas cerca de 200 publicações impressas e emissoras de rádio utilizam a rede em todo o continente. "Os jornalistas e os africanos em geral ainda não têm idéia da dimensão e do potencial da Internet, mas seu uso está crescendo rapidamente", afirma Steinbridge. "Tenho um amigo no Mali que fez de um café uma extensão de seu escritório de trabalho. Ele vai lá todos os dias navegar na Internet porque não tem condições de comprar um computador." Explicação O baixo índice de utilização da rede mundial de computadores na África tem explicação. Além da precária infra-estrutura de comunicações, de transportes e das grandes distâncias, os preços dos computadores e, principalmente, do acesso à rede alcançam valores proibitivos, muitas vezes por imposição dos governos. "No Congo há apenas dois provedores. A mensalidade para quem quiser utilizá-los 24 horas por dia é de US$ 300 (cerca de R$ 700). Pouquíssima gente pode pagar isso", conta Mulamba. O salário mínimo no país, segundo ele, não chega a US$ 10 (R$ 23). A maioria dos cerca de 3,1 milhões de usuários da rede na África residem em países mais desenvolvidos como África do Sul, Senegal e Egito. Em outros pontos, principalmente na região central do continente, os jornais têm tiragem máxima de 5 mil exemplares por dia e até rádio é artigo de luxo. Segundo o jornalista queniano Louis Oduambo, os altos custos cobrados e as limitações legais impostas pelo governo desestimulam quem pensa em investir no setor de comunicações. "O Quênia tem infra-estrutura melhor do que a de muitos outros países, mas há vários problemas a desencorajar os investidores: a existência de 45 línguas diferentes e o alto grau de analfabetismo da população são alguns deles." Unesco Organizações não-governamentais, a Unesco e universidades públicas e privadas têm desenvolvido projetos que tentam popularizar a rede de computadores na África. Atingir as áreas rurais e os jovens são os principais objetivos desses programas, segundo Roland Steinbridge. "Os resultados têm sido bons, mas a falta de infra-estrutura ainda é um grande problema", afirma. Na opinião do pesquisador, no entanto, a rede mundial tem cumprido papel importante no continente. "Graças a ela, as idéias democráticas estão circulando com muito mais rapidez e eficiência na África."

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