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Agência nuclear da ONU rejeita resolução árabe contra Israel

Por FREDRIK DAHL E SYLVIA WESTALL
Atualização:

Os países integrantes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) rejeitaram na sexta-feira, numa votação apertada, uma proposta de resolução dos países árabes que pressionava Israel a aderir ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). O resultado representou uma vitória diplomática para os Estados Unidos, que haviam feito campanha contra a resolução - que não seria de cumprimento obrigatório, mas teria uma forte carga simbólica. Washington temia que a aprovação perturbasse os esforços contra a proliferação nuclear no Oriente Médio e o processo de paz entre israelenses e palestinos, recentemente retomado após um hiato de 20 meses. "O vencedor aqui é o processo de paz, o vencedor aqui é a oportunidade de avançar com uma zona livre de armas de destruição em massa no Oriente Médio", disse Glyn Davies, embaixador dos EUA junto à AIEA. Ele falou após um tenso debate que ilustra as profundas divisões existentes entre nações ocidentais desenvolvidas e os países em desenvolvimento. Acredita-se que Israel possua o único arsenal nuclear do Oriente Médio. O Estado judeu é um dos quatro únicos países do mundo que não participam do TNP (os outros são Índia, Paquistão e Coreia do Norte). Os Estados árabes, com apoio do Irã, dizem que isso é uma ameaça à paz e à estabilidade do Oriente Médio. Eles querem que Israel submeta todas as suas instalações nucleares ao monitoramento da AIEA. Israel diz que só cogitará aderir quando houver uma paz abrangente no Oriente Médio. Participar do tratado implica abrir mão de possuir um arsenal nuclear. O embaixador do Irã na AIEA, Ali Ashghar Soltanieh, disse que o resultado foi um revés para o TNP, e prometeu que a ofensiva diplomática contra Israel não será abandonada. "Este é um caminho irreversível", disse o diplomata, cujo país é acusado por Israel e EUA de tentar desenvolver armas atômicas secretamente - suspeita que Teerã rejeita. A resolução teve 46 votos favoráveis e 51 contrários na Conferência Geral da AIEA, que reúne anualmente os 151 países da entidade. Os demais se abstiveram ou estavam ausentes. No ano passado, a assembleia havia aprovado uma resolução semelhante a respeito das "Capacidades Nucleares de Israel". Vários países menores, inclusive alguns da América Latina, que estavam ausentes em 2009 desta vez votaram contra a medida. A exemplo do que ocorreu no ano passado, Rússia e China apoiaram a resolução, mostrando como o assunto divide as grandes potências. Mark Hibbs, especialista nuclear do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, disse que o resultado dá algum alívio para Israel e mostra que os EUA "não deixaram nada ao acaso". Mas acrescentou que "os árabes não serão detidos depois da sua derrota de hoje". Os EUA alertavam que a aprovação da resolução inviabilizaria totalmente a participação israelense numa conferência, proposta pelo Egito para ocorrer em 2012, que discutiria como tornar o Oriente Médio uma região livre de armas de destruição em massa. Antes da votação de sexta-feira, o representante de Israel, Ehud Azoulay, alertou os demais países na sede da AIEA, em Viena, de que a aprovação da resolução representaria um "golpe fatal para qualquer esperança de futuros esforços cooperativos no sentido de uma melhor segurança regional no Oriente Médio".

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