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Agente do FBI casou-se com seu alvo no Estado Islâmico

Meses após começar a monitorar ex-rapper alemão, Daniela Greene se juntou a ele na Síria

Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

Em janeiro de 2014, Daniela Greene foi destacada pelo FBI para participar de investigação sobre um ex-rapper alemão que havia abraçado o extremismo islâmico e se transformado em propagandista de ações jihadistas online – em um de seus vídeos, ele segura a cabeça de uma pessoa recém decapitada. Cinco meses mais tarde, Greene viajou à Síria de maneira clandestina e se casou com o homem que deveria monitorar.

Poucas semanas antes da união, o terrorista havia declarado lealdade ao Estado Islâmico. A história que poderia fazer parte do seriado Homeland foi revelada pela CNN e é detalhada no processo em que Greene foi condenada a 2 anos de prisão por fornecer informações falsas ao FBI, onde trabalhava desde 2011 como linguista.

Denis Mamadou Cuspert, ex-rapper em Berlim, viajou para a Síria e jurou lealdade ao Estado Islâmico Foto: Gordon Welters/The New York Times

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A fluência em alemão levou à sua designação para investigar o ex-rapper Denis Cuspert, que era conhecido como Deso Dogg. Depois de um acidente de carro quase fatal em 2010, ele se converteu ao islamismo, adotou o nome Abou Maleq e começou a divulgar vídeos com mensagens extremistas na internet.

Dois anos mais tarde ele viajou ao Egito e, em seguida, à Síria, onde lutou na guerra civil nas fileiras do grupo jihadista Junud al-Sham. Quando Greene chegou à Síria, Cuspert já integrava o Estado Islâmico e era conhecido pelo nome de guerra Abu Talha Al-Almani (Abu Talha, o Alemão).

Ao FBI, Greene disse que viajaria à Alemanha para visitar sua família. No formulário entregue à agência ela descreveu a viagem como “férias/pessoal” e especificou as datas de saída e retorno e os locais que visitaria.

Mas no dia 23 de junho, ela embarcou para Gaziantep, um cidade turca que fica a 32 km da fronteira com a Síria, de onde Cuspert organizou sua travessia e a entrada no território controlado pelo Estado Islâmico.

Vídeo de propagando do Estado Islâmico divulgado na internet Foto: Reuters

Segundo o processo judicial, ao qual o Estado teve acesso, Greene arrependeu-se de sua decisão logo depois do casamento. “Eu estou na Síria. Às vezes eu gostaria de poder voltar. Eu não sei nem como eu faria isso, se tentasse voltar . Eu estou em um ambiente muito hostil e não sei quanto tempo vou sobrevier aqui, mas não importa, é tudo um pouco tarde demais”, escreveu em 9 de julho em um e-mail a uma pessoa nos Estados Unidos não identificiada nos autos.

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As mensagens deixam claro que ela sabia ter cometido um crime. “Não sei se eles te falaram, mas eu provavelmente irei para a prisão por um longo tempo se eu voltar, mas essa é a vida”, escreveu no dia 22 de julho.

Greene disse a Cuspert que era funcionária do FBI e ele estava sendo investigado pela agência. Os procuradores federais sustentaram que durante o período em que ambos estavam juntos na Síria, ele era um ativo combatente do Estado Islâmico.

No trabalho de investigação anterior à viagem, Greene identificiou e forneceu ao FBI vários números de telefone e contas online usadas pelo ex-rapper, entre as quais duas no Skype. De acordo com o depoimento de um colega, ela mantinha uma conta exclusiva no Skype, à qual nenhum outro agente do FBI tinha acesso.

Nascida na República Checa, Greene passou parte de sua infância na Alemanha. De acordo com a CNN, ela se casou bem jovem com um soldado americano, o que provocou sua mudança para os EUA. Ainda segundo a emissora, ambos ainda estavam juntos quando ela viajou à Síria.

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Cerca de um mês depois de sua união com Cuspert, Greene conseguiu retornar aos Estados Unidos, onde já era procurada pelo FBI. Presa ao desembarcar, ela cooperou de maneira imediata com os investigadores, o que levou os procuradores federais a pedir uma pena reduzida de 2 anos de prisão.

Greene foi colocada em liberdade condicional em agosto e ficará sob supervisão por um período de três anos. A reportagem do Estado não obteve resposta aos pedidos de entrevista. A CNN falou rapidamente com a ex-funcionária do FBI, que hoje trabalha como recepcionista em um hotel. “Se eu falar com você, minha família estará em perigo”, disse ao repórter.