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Agressões a brasileiros são comuns na Europa

Casos de ameaça e intimidação são denunciados com frequência, mas quase sempre em vão

Por Jamil Chade
Atualização:

Warley mora em Zurique. Nely tem um restaurante em Madri. Pedro é músico em Londres. Antônio trabalhava no aeroporto de Paris. Em comum, eles têm a história de serem vítimas de agressões ou intimidação no exterior por serem estrangeiros. Em comum, têm a história de não contar com um pai que tenha sido assessor parlamentar - como no caso da pernambucana Paula Oliveira -, capaz de mobilizar a diplomacia brasileira em reação a uma farsa na Suíça. Paula denunciou ter sofrido um ataque xenófobo, mas confessou depois ter forjado a história. Consulados do Brasil no exterior têm registrado um número cada vez maior de acusações de maus-tratos e abusos de que são vítimas os brasileiros em aeroportos ou nas ruas. O Consulado do Brasil em Madri, por exemplo, encaminha todas as semanas um punhado de casos ao governo espanhol, com alegações de maus-tratos. Nely Oliveira lembra quando seu restaurante em Madri, o Kaboklo, foi invadido por cerca de 20 policiais espanhóis em outubro. "Puseram todos os clientes virados para a parede e pediram os documentos de cada um", afirmou. Na rua, um camburão esperava os supostos imigrantes ilegais para serem deportados. Naquela noite, porém, o restaurante havia sido fechado para uma festa privada de espanhóis e apenas quatro brasileiros estavam no local, todos com visto de residência. Nely decidiu levar o caso até o consulado, acusando a polícia de abuso e de estar realizando a blitz em seu estabelecimento apenas porque se tratava de um local normalmente frequentado por imigrantes. "Por que meu restaurante é alvo dessas ações? Eu pago impostos e crio empregos", disse. Nely prestou queixa à polícia, mas o processo nunca avançou. "O consulado não fez nada por nós", disse. No consulado, a explicação dada ao Estado é que "não havia o que fazer". "Os brasileiros são muito maltratados e o governo não está dando uma resposta", disse Nely. Em Zurique, o brasileiro Warley Alves, de 19 anos, afirma que também já sofreu nas mãos de grupos de extrema direita, mas nem tentou levar os culpados à polícia por temer retaliações. "Eu andava na rua com um amigo. Um grupo de suíços nos abordou e disse: ?Você é estrangeiro. O que faz aqui??", disse. O brasileiro recebeu socos e teve os dentes quebrados. Em Londres, o músico Pedro Lima afirma que já nem liga quando é abordado por policiais. "Eles olham para mim, com meu violão, minha cor de pele e devem pensar que sou ilegal", disse. "Mas não é nada disso. Sou professor de violão clássico", afirmou. "Já fui vítima de maus-tratos por ser estrangeiro e tive de escutar muita besteira." Antônio de Souza também relata ter sido alvo de ataques racistas em Paris. "Fui ofendido por um vizinho e chamei a polícia, que nem sequer foi até o apartamento do suspeito pedir explicações."

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