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Ahmadinejad cancela visita ao Brasil

Teerã alega compromissos de campanha para ''adiar'' viagem do presidente iraniano; Itamaraty diz esperar nova data

Por Tania Monteiro e Mariângela Gallucci
Atualização:

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, desistiu da visita oficial que faria ao Brasil amanhã. Para justificar a mudança de planos de última hora, Ahmadinejad enviou uma mensagem ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de amigo, pedindo o adiamento da visita para depois da eleição presidencial iraniana, que deverá ocorrer em 12 de junho. Em linguagem menos diplomática, fontes do governo brasileiro dizem que a visita foi cancelada. O convite a Ahmadinejad - que visitaria também Venezuela e Equador - tinha sido feito em novembro. Desde sua posse, em janeiro, o presidente americano, Barack Obama, acenava com uma aproximação com o regime iraniano. No mês passado, porém, o discurso de Ahmadinejad na abertura da Conferência contra o Racismo, promovida pela ONU, em Genebra, na qual acusou Israel de ser uma "entidade racista", voltou a acirrar os ânimos entre o Irã e o Ocidente (mais informações na página seguinte). O "adiamento" da viagem de Ahmadinejad resolve um problema diplomático que o Brasil vinha enfrentando por causa da visita. Na semana passada, o governo israelense convocou o embaixador Pedro Motta para consultas sobre o convite. Dias depois, a secretária de Estado, Hillary Clinton, sem citar o Brasil, manifestou preocupação com o aumento da influência de Irã e China entre os países latino-americanos. Grupos organizados da comunidade judaica do Brasil e militantes de defesa de direitos dos homossexuais convocaram manifestações em vários pontos do País para protestar contra a visita. Um ministro brasileiro informou, no entanto, que o governo brasileiro não quer entrar em polêmica com o iraniano e aguarda a marcação de uma eventual nova data para a visita. Segundo ele, as reuniões entre as comitivas de empresários já agendadas serão realizadas normalmente para que se discutam as questões comerciais que são fundamentais para os dois países. "Isso não quer dizer, porém, que o Brasil concorde com as declarações do presidente iraniano negando o Holocausto, que já foram até repudiadas pelo Itamaraty", prosseguiu o ministro. Ontem, ao anunciar que Ahmadinejad tinha adiado a visita, o subsecretário-geral de assuntos políticos do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, fez questão de frisar que o Brasil tem grande interesse em manter e retomar o fluxo de comércio com o Irã, com o qual o País têm relações há mais de 100 anos. De acordo com ele, esses adiamentos de visitas presidenciais, em cima da hora, são comuns e ocorrerem por problemas de agenda. "Estamos interessados na visita. Continuamos interessados", disse Jaguaribe. O diplomata afirmou que o governo brasileiro tem interesse em uma ampla aproximação do Irã, que considera "um ator político fundamental na região". "Se o Brasil fosse ter relações apenas com países com quem tem plena afinidade, teríamos um grupo muito restrito de parceiros", afirmou. Na mensagem enviada ontem à tarde a Lula, Ahmadinejad afirmou que "as relações bilaterais entre os dois países entraram em fase de aceleração no sentido de incrementar a cooperação". "Peço a Vossa Excelência que aceite o adiamento da visita oficial para outra oportunidade, depois da eleição presidencial no Irã, em data a ser oportunamente definida pelas duas chancelarias", dizia a mensagem encaminhada a Lula.

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