Ahmadinejad desafia veto de líder supremo

Presidente mantém nomeação de vice, apesar da oposição de Khamenei

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Por AP
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O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, decidiu ontem manter a indicação de um político controvertido para a vice-presidência. A decisão representa um desafio pouco habitual à autoridade do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã e aliado do presidente. Isso porque Khamenei teria ordenado a remoção do indicado. O desafio de Ahmadinejad aprofunda a disputa entre os líderes de linha dura do Irã e deve indignar seus colegas conservadores, além de poder provocar uma divisão entre ele e o líder supremo. A disputa no campo dos linhas-duras ocorre enquanto Khamenei tenta mantê-los unidos diante do forte desafio da oposição após a eleição presidencial de 12 de junho, na qual Ahmadinejad foi reeleito, sob acusação de fraude. Os opositores saíram às ruas contra as eleições e os protestos deixaram ao menos 20 mortos. A ordem de Khamenei impondo a remoção de Esfandiar Rahim Mashai foi um golpe humilhante para Ahmadinejad - que é visto como protegido do líder supremo - , mas Khamenei pareceu julgar a medida necessária para preservar o apoio dos linhas-duras. Mashai é parente de Ahmadinejad por afinidade - a filha dele é casada com o filho do presidente. Mashai enfureceu os linhas-duras em 2008 quando disse que os iranianos eram "amigos de todos os povos do mundo, até dos israelenses". Na época, ele era vice-presidente encarregado do turismo e da herança cultural do país. O Irã tem 12 vice-presidentes, mas o primeiro vice é o mais importante, pois sucede ao presidente no caso de sua morte, incapacidade, renúncia ou deposição. Também é ele que administra as reuniões de gabinete na ausência do presidente. Após dias de controvérsia, Khamenei decidiu agir. "A opinião do altíssimo líder favorável à remoção do nome de Mashai para o posto de vice-presidente foi comunicada por escrito a Ahmadinejad", relatou ontem agência semioficial de notícias Fars. Mas, horas depois, Ahmadinejad disse querer tempo para explicar sua indicação e defendeu ardorosamente Mashai, durante cerimônia de despedida para ele no Departamento de Turismo. SEM PRECEDENTES Como líder supremo, Khamenei detém a palavra final nas questões de Estado. Mas sua ordem pedindo a remoção de Mashai foi uma extensão sem precedentes de seus poderes. Acredita-se que, nos bastidores, ele vete informalmente algumas indicações para cargos do alto escalão do governo, mas ele não desempenha um papel formal na sua aprovação e nem dispõe de poder oficial para removê-los. Mesmo sob o governo reformista do Irã, entre 1997 e 2005, ao qual diz-se que Khamenei se opôs, ele nunca depôs abertamente nenhum dos funcionários. O vice-presidente do Parlamento, Mohammad Hasan Aboutorabi-Fard, disse na terça-feira que a dispensa de Mashai foi uma decisão tomada pelo sistema de clérigos - que está acima do governo eleito e é chefiado por Khamenei. "A dispensa ou a renúncia de Mashai precisar ser anunciada pelo presidente o quanto antes", disse ele, segundo a agência semioficial de notícias Isna.

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