
15 de março de 2012 | 03h04
Em uma rara demonstração do embate nos bastidores da república islâmica, o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi sabatinado ontem no Parlamento do Irã (conhecido como Majlis) - a primeira convocação desse tipo desde a revolução de 1979. Ahmadinejad, que estava acompanhado de oito ministros de seu gabinete, esquivou-se de perguntas que abarcaram das dificuldades econômicas aos problemas de transporte em Teerã.
Ao final, o presidente ouviu um deputado defender a abertura de um processo de impeachment para derrubá-lo. Ele se fez de desentendido e não respondeu ao ataque.
Há mais de um ano, cresce a disputa entre Ahmadinejad, de um lado, e o líder supremo, Ali Khamenei - apoiado por parlamentares conservadores -, de outro. Ontem, questionado sobre o suposto desrespeito à autoridade do número 1 da república islâmica, o presidente botou panos quentes e negou ter tentado enfrentar o guia espiritual.
Desde 2010, Ahmadinejad ordenou a demissão de dois ministros-chave aliados a Khamenei: o ex-chanceler Manouchehr Mottaki e o chefe da inteligência, Heydar Moslehi. No segundo caso, o líder supremo desautorizou publicamente o presidente, que, em protesto, se trancou em casa por 11 dias. Moslehi permaneceu no cargo.
Antes da audiência de ontem, o Parlamento iraniano publicou a lista de dez perguntas que seriam feitas a Ahmadinejad. Além da disputa com Khamenei, o presidente foi questionado sobre o corte nos subsídios que supostamente teria levado ao aumento generalizado de preços - algo que ele negou - e o fracasso em atingir a meta anual de crescimento econômico, de 8%.
O programa nuclear e as tensas relações com as potências ocidentais não estiveram na pauta de discussões.
Críticos fortalecidos. O processo para convocação do presidente teve início com uma petição de parlamentares em fevereiro. No entanto, com as eleições legislativas do mês passado, o campo aliado a Khamenei ganhou ainda mais força diante dos políticos ligados a Ahmadinejad.
Três dias depois da votação, no dia 2, a petição já reunia 25% dos 290 membros do Parlamento - número necessário para convocar o presidente e obrigá-lo a responder às perguntas.
A sabatina foi transmitida ao vivo pelo rádio. A sessão foi presidida pelo deputado Ali Motahari, conhecido rival de Ahmadinejad. Falando calmamente, o presidente evitou o confronto direto com deputados. Ele tentou fazer uma piada e acabou acusado de falta de decoro e ofensa.
"A linguagem do presidente foi ofensiva durante todo seu discurso. Ele se esquivou das perguntas. Como esperado, não recebemos nenhuma resposta lógica do presidente", atacou o deputado conservador Mostafa Reza Hosseini. Outro parlamentar aliado ao líder supremo, Ghodrotollah Ali Khani, foi ainda mais duro durante a sessão: "Se tudo der certo, o próximo passo será o impeachment".
Um dos momentos mais tensos da sessão foi a pergunta sobre o chefe de gabinete de Ahmadinejad, Esfandiar Rahim Mashaei. O aliado do presidente foi acusado de defender doutrinas "anti-islâmicas" e contrárias aos princípios da revolução de 1979 ao exaltar a herança persa do Irã. Cauteloso, Ahmadinejad disse apenas que "apoia a história" do Irã. / NYT
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