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AI acusa Paquistão de prisões ilegais em troca de recompensas dos EUA

A prática americana de pagar recompensas de milhares de dólares por suspeitos de "terrorismo" não identificados levou à detenção ilegal de muitas pessoas inocentes

Por Agencia Estado
Atualização:

Autoridades paquistaneses seqüestraram centenas de pessoas acusando-as de relações com "terrorismo" para depois, em busca de recompensas, mantê-las detidas em locais secretos ou entregá-las a militares americanos, denunciou o grupo de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) em relatório divulgado nesta sexta-feira (29). A prática americana de pagar recompensas de milhares de dólares por suspeitos de "terrorismo" não identificados levou à detenção ilegal de muitas pessoas inocentes, disse Claudio Cordone, diretor de pesquisas da AI. Angelika Pathak, uma pesquisadora da AI baseada em Londres, considerou que a prática americana de pagamento de recompensas provocou detenções ilegais e abusos dos direitos humanos em nome do combate ao "terrorismo" no Paquistão. "Caçadores de recompensas - inclusive oficiais de polícia e moradores locais - capturaram indivíduos de diferentes nacionalidades, aleatoriamente em alguns casos, para vendê-los às autoridades americanas", denunciou ela. As acusações da Anistia Internacional fazem parte do relatório "Direitos Humanos Ignorados na Guerra do Terrorismo", no qual o Paquistão é acusado de violar sistematicamente os direitos humanos de supostos extremistas paquistaneses e estrangeiros. Tasnim Aslam, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, rejeitou a denúncia. "Quando prendemos um estrangeiro suspeito de terrorismo, tentamos enviá-lo de volta a seu país de origem", disse ela à Associated Press. "Na maioria dos casos, esses suspeitos não são aceitos por esses governos e, naturalmente, não podemos mantê-los aqui", prosseguiu a porta-voz. Ela não esclareceu o que é feito com os suspeitos rejeitados pelos países de origem. Segundo Aslam, "a vida de milhões de pessoas não pode ser colocada em risco por causa dos direitos de alguns indivíduos". Ela negou ainda que centenas de suspeitos de "terrorismo" tenham sido seqüestrados pelas autoridades paquistanesas. Entretanto, o documento da AI, elaborado com base em entrevistas com ex-detentos, vem à tona apenas alguns dias depois de o próprio presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, ter lançado um livro de memórias no qual afirma que seu país capturou 689 pessoas suspeitas de pertencer à rede extremista Al-Qaeda. Dessas, 369 foram entregues aos Estados Unidos, admite o presidente. "Nós obtivemos milhões de dólares em recompensas" pagas pelos EUA, escreveu Musharraf no livro "Na Linha de Fogo". Ele não especifica quantos milhões de dólares o governo de seu país ganhou em recompensas pagas pelos americanos. Em Islamabad, Cordone afirmou que diversos desses detentos foram parar em prisões secretas ou em penitenciárias operadas pelos Estados Unidos, entre elas Guantánamo (Cuba) e Bagram (Afeganistão). "Centenas de pessoas foram presas em massa. Muitas delas foram vendidas aos Estados Unidos como ´terroristas´ somente com base nas palavras dos captores. Centenas de pessoas foram transferidas para Guantánamo, Bagram ou centros de detenção secretos operados pelos EUA", denunciou. "A estrada para Guantánamo literalmente começa no Paquistão", enfatizou. Num dos casos denunciados pela AI, um criador de galinhas paquistanês foi "transferido" para custódia dos EUA acusado de ser um ex-vice-chanceler taleban. Em julho de 2004, três mulheres e cinco crianças foram detidas durante uma operação que resultou na captura de um ativista tanzaniano da Al-Qaeda. Entre as cinco crianças detidas havia um bebê de colo. "Nada se sabe sobre o paradeiro dessas mulheres e dessas crianças", concluiu a Anistia.

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