Aiatolá critica cerco de Israel a mesquita e defende Hamas e Hezbollah

Em palestra em São Paulo, Mohsen Araki condena atos terroristas do Estado Islâmico e responsabiliza Estados Unidos por desestabilizar Oriente Médio com conflitos

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Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz
Atualização:

Sob críticas de parte da comunidade judaica e evangélica em virtude de declarações atribuídas a ele sobre o Estado de Israel, o aiatolá Mohsen Araki, criticou neste sábado, 29, em palestra em um evento em São Paulo o cerco imposto pelo país nas últimas semanas à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Ele também defendeu os grupos Hezbollah e Hamas, que, segundo ele, se defendem da ocupação israelense, no Líbano e na Cisjordânia. O imã também reprovou a atuação geopolítica dos Estados Unidos no Oriente Médio, a quem responsabilizou pela maior parte dos conflitos existentes atualmente.

"No Líbano, qual a culpa do Hezbollah? Culpa-se um grupo por se defender da ocupação (israelense, nos anos 80)?", questionou o clérigo. "Quem pratica o sonho de defender sua terra, como o Hamas também, é chamado de terrorista. E quem joga bombas de fragmentação no Iêmen, no Líbano e na Palestina?"

AiatoláMohsen Araki dá entrevista em São Paulo Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

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Para o aiatolá, a imprensa ocidental e entidades de direitos humanos apresentam dois pesos e duas medidas para tratar das crises no Oriente Médio, e citou como exemplo a recente crise entre israelenses e palestinos provocada pela instalação de controle de metais na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, a terceira mais sagrada do Islã. "Por que os muçulmanos não podem chegar a Al-Aqsa?Onde estão os direitos humanos e a imprensa mundial? Isso não é terrorismo?", disse. "Onde estão as organizações que gritam dia e noite quando um israelense é ferido quando palestinos são mortos por tentar entrar na mesquita?"

O clérigo acusou os Estados Unidos de ser um elemento desestabilizador para a paz mundial com sua força militar e citou como exemplo o acordo fechado pelo governo Donald Trump para a venda de armas para a Arábia Saudita, rival regional do Irã. "Os Estados Unidos venderam US$ 460 bilhões em armas para os sauditas - um dinheiro que poderia ter sido usado para combater a pobreza", afirmou. "Existe um ladrão pior do que esse? Que rouba seu dinheiro para te matar?"

Ainda de acordo com o aiatolá, os Estados Unidos provocam guerras em todos os lugares. "Nunca ninguém invadiu os Estados Unidos e todas as guerras têm o dedo americano", falou.

No final da palestra, Araki criticou os atentados do Estado Islâmico em países como a Bélgica e a França e disse que esse tipo de violência é condenado pelo Islã e deve ser banido. "Nós não queremos guerra, queremos união", disse. "Esse terrorismo que atingiu a Europa deve ser banido."

Evento. A palestra “Os muçulmanos e o enfrentamento ao terrorismo e radicalismo”, organizada pelo Centro Islâmico no Brasil em um hotel na zona norte de São Paulo, reuniu lideranças islâmicas paulistas e convidados do Irã, Rússia,Paraguai e do Brasil. No encontro, os participantes condenara, a atuação de grupos terroristas no Oriente Médio. 

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“Usam de todos os meios e armas para denegrir a imagem do Islã e apresentá-lo como uma religião de terror. Isso é incorreto. Alá ordena não cometer agressões”, disse o sheik Taleb Hussein al-Khazraji, presidente do centro. “O inimigo interno, com palavras de extremismo, deixa resultados negativos na nação Islâmica. Prometem sonhos a jovens e os enganam.”

O embaixador do Irã no Brasil, Saed Ali, criticou “as medidas perigosas de Israel para manter a ocupação da Cisjordânia”. “A ocupação da mesquita de Al-Aqsa é um exemplo do apartheid e dos crimes de guerra de Israel, que nunca procurou a paz.”

Reações. A visita de Araki foi alvo de críticas da comunidade judaica e evangélica em virtude de suas declarações sobre o Estado de Israel. Em um encontro com clérigos libaneses em 2015, o imã disse que “a aniquilação do sionismo é uma certeza”, segundo a agência iraniana Taghrib. 

Na sexta-feira, a Federação Israelita do Estado de São Paulo disse esperar que Araki “ não semeasse o ódio”. 

A polêmica começou após o deputado Jean Wyllys, do PSOL/RJ publicar um texto condenando a visita de Araki e a posição do governo do Irã contra os direitos da comunidade LGBT no país.

Na quarta-feira, líderes das religiões católica, judaica e islâmica no Brasil publicaram uma carta condenando “qualquer discurso destinado a propagar o ódio entre nossas comunidades”. Ao Estado, o clérigo negou que tenha vindo ao Brasil “espalhar o ódio” e disse que seus críticos é que adotam um discurso radical.