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Ajuda começa a chegar em meio a alerta de epidemias em áreas críticas

Governo peruano reage às críticas de lentidão e acelera socorro a desabrigados das cidades mais devastadas

Por Roberto Lameirinhas
Atualização:

Duramente criticado pela demora na chegada da ajuda humanitária às vítimas do terremoto de quarta-feira - o que deu origem a tentativas de saques e manifestações violentas na sexta -, o governo do presidente Alan García decidiu ontem acelerar os programas de emergência e reforçar a segurança nas áreas de Pisco, Chincha, Cañete e Ica, cidades da costa centro-sul do país mais afetadas pelo abalo que deixou 510 mortos e mais de 1.500 feridos. Pelos menos 600 soldados do Exército e da Polícia Nacional foram deslocados para a região do desastre, enquanto os reparos de urgência da Rodovia Panamericana ampliavam o fluxo dos caminhões que levam água potável, alimentos, barracas de campanha e cobertores com destino à área de desastre. Entidades de ajuda humanitária, como a Cruz Vermelha Internacional, qualificavam ontem de essencial a rapidez da chegada da ajuda em áreas como Pisco, cidade de 130 mil habitantes destruída quase completamente pelo terremoto. O principal temor era o de que a falta de água e centenas de cadáveres ainda insepultos - e a conseqüente deterioração das condições sanitárias - causasse epidemias, como de cólera. Já no fim da tarde de sexta-feira, a Defesa Civil começava a montar as barracas para a instalação de acampamentos provisórios para mais de 20 mil desabrigados de Pisco. De acordo com o ministro da Defesa, Allan Wagner, nove acampamentos tinham sido instalados na cidade. Com a chegada de centenas de caixões, o sepultamento das vítimas do terremoto no pequeno - e também semidestruído - cemitério de Pisco começou na sexta. Ainda assim, alguns cadáveres retirados dos escombros permaneciam a céu aberto, no chão da Praça de Armas, à espera de identificação. Segundo explicou ao Estado um médico legista, alguns corpos seriam sepultados sem identificação por uma simples razão: nenhum parente que poderia reconhecê-los sobreviveu à tragédia. O governo também intensificou a ponte aérea de emergência entre a base aérea de Pisco e a de Lima-Callao para trasladar os feridos a hospitais da capital. O líder nacionalista Ollanta Humala, vencido por García no segundo turno da eleição presidencial de junho do ano passado, visitou comunidades pobres de Pisco na sexta-feira à noite e não poupou críticas à lentidão do governo na distribuição da ajuda. Na comunidade de Manu Patinga, onde alguns corpos ainda eram velados ao ar livre, ele afirmou que sua presença representava a solidariedade de seu Partido Nacionalista Peruano ao povo de Pisco. A assessora de Humala, Cynthia Montes, negou ao Estado que a viagem de ex-candidato presidencial a Pisco se tratasse de um ato de oportunismo político, como denunciaram políticos ligados ao governo. "É apenas uma visita para levar conforto às vítimas", resumiu. García também chegou ao centro de Pisco quase ao mesmo tempo que Humala. Despachando desde um gabinete de emergência instalado na base aérea dos arredores da cidade, ele visitou um bebê, o primeiro nascido após o terremoto em Pisco. O parto do pequeno Rafael Jesús, filho de uma moradora da cidade de 17 anos que teve a casa destruída pelo tremor, foi feito no hospital de campanha instalado pela Essalud - o equivalente peruano do Sistema Único de Saúde brasileiro - na Praça de Armas.

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