''''Ajuda de Chávez é bem-vinda''''

Pai de refém das Farc celebra suposto auxílio à luta por acordo de paz na Colômbia

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Por Renata Miranda
Atualização:

Os rumores que surgiram na semana passada sobre a suposta intermediação do presidente venezuelano, Hugo Chávez, nas negociações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para libertar a franco-colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada pela guerrilha em 2002, deram esperança ao professor de geografia Gustavo Moncayo, de 55 anos. Considerado o símbolo atual da luta dos parentes dos reféns por um acordo de paz, Moncayo afirmou, por telefone, ao Estado: "A ajuda de Chávez é bem-vinda tanto para negociar a liberdade de Ingrid quanto a dos outros reféns." Quando, em 17 de junho, partiu a pé para Bogotá desde sua casa na cidade de Sandoná, sudoeste da Colômbia, Moncayo tinha apenas uma certeza: só voltaria a dormir em sua cama depois que o governo do presidente Álvaro Uribe conseguisse alcançar um acordo com as Farc para libertar os reféns. "Saí de casa com duas trocas de roupa e o desejo de lutar pelos seqüestrados." O professor conta que decidiu começar a caminhar pelo país para chamar a atenção do povo colombiano para a causa dos seqüestrados. "A indiferença das pessoas foi o que mais me motivou." A outra motivação de Moncayo foi seu filho mais velho, Pablo, de 28 anos, que faz parte do grupo de 45 reféns que as Farc querem trocar por guerrilheiros presos. Cabo do Exército colombiano, ele foi seqüestrado em dezembro de 1997. Moncayo deixou sua casa usando uma corrente de ferro em volta do pescoço e das mãos, como símbolo de solidariedade aos seqüestrados - segundo relatos do suboficial de polícia John Frank Pinchao, que escapou em maio das Farc depois de quase nove anos de cativeiro, os reféns dormem amarrados com correntes. No começo, a família do professor não apoiou sua campanha. Sua mulher, Maria Estela, de 48 anos, conta que a maior preocupação dela e de suas quatro filhas era o desgaste físico que a caminhada causaria em Moncayo. "Estávamos lutando pela libertação de Pablo há quase dez anos sem ter nenhum tipo de resultado", relembra. "Até que Gustavo me falou: ?Não adianta fazer mais nada. Tenho de caminhar para sensibilizar as pessoas?. Foi aí que entendi o que meu marido queria fazer." Foram mais de 850 quilômetros de caminhada durante 46 dias até chegar à Praça Bolívar, em Bogotá, onde foi recebido por uma multidão de simpatizantes e por Uribe. "El profe", como é conhecido na Colômbia, reuniu-se com o presidente ali mesmo. Depois do encontro, Uribe anunciou estar disposto a desmilitarizar uma área do território do país por 90 dias para negociar a paz, se as Farc libertassem os 45 reféns políticos que estão em seu poder. O professor afirmou que se encontrará com Uribe novamente para discutir o caso, mas ainda não sabe quando. No entanto, ele acredita que o presidente precisa mudar a maneira como está negociando com as Farc. "Uribe não está fazendo trabalho algum em relação aos seqüestrados. Para ele, pouco interessa a vida dos reféns." O professor diz querer continuar trabalhando para internacionalizar o problema do conflito interno colombiano. "Não sei por quanto tempo vou ficar aqui", afirma. "Só sei que sairei somente depois que um acordo de paz for estabelecido."

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