Ajuda prometida só chega a conta-gotas

Grau de devastação do país foi subestimado por doadores internacionais

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Por Redação
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O grau de destruição do Afeganistão foi subestimado, criando expectativas pouco realistas sobre a velocidade com a qual o país poderia ser reconstruído, disse ao Estado o especialista em Afeganistão Steven Ross, do Centro Internacional para Estudos Estratégicos, em Washington. Dez anos de assédio soviético e os combates pela libertação, seguidos de uma devastadora guerra civil, trouxeram ruína ao Afeganistão, que sofreu isolamento internacional durante o regime do Taleban e mais destruição durante a guerra liderada pelos EUA para depor o movimento radical islâmico. "O investimento feito pela comunidade internacional foi extremamente baixo. Nos primeiros dois anos após o Taleban ter sido deposto, o Afeganistão recebeu apenas US$ 52 per capita de ajuda externa, muito abaixo dos US$ 814 per capita recebidos por Kosovo", acrescentou Ross. Os países doadores prometeram US$ 30 bilhões em ajuda para a reconstrução desde 2001. Segundo o Ministério das Finanças, até março de 2007 haviam sido gastos US$ 13 bilhões. Segundo Ross, que participou de um estudo para medir o progresso obtido no Afeganistão, a deterioração da segurança, principalmente no sul do país, dificulta a assistência. No entanto, algum progresso tem sido obtido nas outras regiões, nas quais 80% dos afegãos agora têm acesso aos serviços básicos de saúde e milhões de crianças voltaram à escola. "Apesar dos problemas de segurança, a economia afegã se recupera lentamente. O PIB tem sido de dois dígitos, a inflação permanece baixa e o comércio aumentou muito. Contudo, os pequenos progressos no nível macroeconômico não chegaram ao afegão comum. São poucas as oportunidades de trabalho e os poucos empregos que existem são instáveis", disse Ross. De acordo com o governo afegão, o índice de desemprego é de 40%. Para o enviado especial da ONU ao Afeganistão, Tom Koenigs, nem tudo são más notícias. "Hoje, por exemplo, há mais estradas, mais escolas e maior acesso à saúde do que em qualquer época da história do Afeganistão", disse Koenigs ao Estado. Contudo, segundo a prefeitura de Cabul, apenas 5% das casas da capital têm sistema de esgotos e 10% têm água encanada. O governo afegão recebe atualmente cerca de US$ 3 bilhões anuais em ajuda estrangeira, mas o desenvolvimento urbano está abaixo na lista de prioridades, pois parte da verba é gasta em segurança, reabilitação das áreas rurais e criação de oportunidades de emprego para desencorajar os agricultores de cultivar papoulas, matéria-prima do ópio e da heroína. De acordo com a prefeitura de Cabul, seriam necessários pelo menos US$ 3,5 bilhões anuais para estabelecer serviços básicos a 70% dos moradores nos próximos 10 a 15 anos. Mas o orçamento deste ano da municipalidade é de apenas US$ 26 milhões.A.P. NÚMEROS >US$ 52 per capita foi a ajuda recebida pelo Afeganistão nos primeiros dois anos que se seguiram à deposição do regime do Taleban >US$ 814 per capita foram destinados pela comunidade internacional para a reconstrução em Kosovo após o conflito nos Bálcãs

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