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Ajudar os migrantes é o dever de todos

A UE não deve ser abandonada por outros países e organismos em seu esforço para enfrentar o tráfico humano

Por MATTEO e RENZI
Atualização:

O Mar Mediterrâneo, berço de nossa civilização, está se tornando um leito de morte para milhares de homens, mulheres e crianças desesperados, sem nome. Essas pessoas tiveram vidas cheias de dor, desespero e esperança, que as levaram a ser vítimas do tráfico humano. As vozes de mães que perderam seus filhos no mar assombrarão nossas consciências. Precisamos dar fim a esta carnificina.Após o último incidente - mais de 800 migrantes que viajavam entre a Líbia e a Itália pereceram no fim de semana quando seu barco naufragou -, líderes europeus, que se reunirão hoje a meu pedido, devem reformular nossa resposta ao aumento da migração ilegal e o tráfico humano por meio da África e do Mediterrâneo antes da próxima tragédia.A localização e o papel geopolítico da Itália fez do país um ator importante nesta luta. Nossos esforços de patrulhamento e resgate salvaram milhares de vidas. Testemunhamos o horror de embarcações de tráfico decrépitas e superlotadas afundarem no Mediterrâneo, afogando seus passageiros. E essas embarcações representam apenas o ponto final dos fluxos migratórios ilegais em massa comandados por redes brutais do crime organizado.O desgosto da Itália por este drama em curso vai além de nosso papel nas operações. O tráfico humano tripudia sobre os valores e riquezas que nosso mar legou para a civilização. Há milênios, nossos ancestrais viviam ao longo destas costas celebrando a diversidade, riqueza e plenitude de suas identidades. A Itália e sua cultura são em grande parte o produto desses valores e do trabalho que eles instigaram.Meu país não fechará os olhos para esta história. A Itália não permitirá que esses princípios sejam derrotados. Somos todos parcialmente responsáveis pelo surgimento do tráfico - embora há muito que externei meus temores, consciente do risco de cada derramamento de sangue que estamos agora testemunhando. A resposta da comunidade internacional foi insuficiente.A União Europeia gasta aproximadamente 40 milhões por ano - de um orçamento de aproximadamente 145 bilhões - na operação Triton de patrulhamento aéreo e marítimo do Mediterrâneo. Isso é dramaticamente inadequado. A UE precisa começar a alocar os recursos apropriados.A Itália não é o destino final desejado da maioria dos migrantes, mas contribuímos com uma parte muito grande dos esforços europeus de patrulhamento e de busca e salvamento, bem como recursos para prover comida, atendimento médico e abrigo inicial. A Itália empenhou sua capacidade total. Esta não pode ser a tarefa de um único país, por mais bem equipados e determinados que estejamos.A contribuição da UE é de fundamental importância, mas também é insuficiente. A UE não deve ser abandonada por outros países e organismos internacionais em seu esforço para enfrentar esse fenômeno definidor de nosso tempo. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse no início da semana: "O Mediterrâneo está rapidamente se tornando um mar de miséria para milhares de migrantes". A migração diz respeito a todos e precisamos contribuir para enfrentá-la.A Itália apoia as seguintes propostas, que eu encorajo o Conselho Europeu a aprovar hoje.As operações marítimas atuais da UE no Mediterrâneo precisam ser reforçadas com pelo menos a duplicação de seus recursos e ativos. Precisamos ampliar seu raio de ação além de patrulhamento e controle de fronteiras, para um leque mais amplo de tarefas que lhes permitam realizar um mandato mais eficaz.As operações navais da UE no Chifre da África combateram com sucesso a pirataria - e uma iniciativa similar precisa ser desenvolvida para combater eficazmente o tráfico humano no Mediterrâneo. As embarcações do tráfico precisam ser inutilizadas. Os traficantes são os mercadores de escravos do século 21, e devem ser levados à Justiça.Precisamos de novas ferramentas, além de recursos adicionais, para uma coordenação eficaz entre Estados-membros da UE e agências para responder aos requerentes de asilo, abrigando os necessitados e devolvendo os migrantes irregulares. Precisamos de mais agentes internacionais na África lidando diretamente com questões de migração. E precisamos ser capazes de efetivamente transferir os que pedem asilo de um país da UE para outro com base em onde eles pode obter a melhor proteção.As causas fundamentais para centenas de milhares de pessoas buscarem desesperadamente uma vida melhor, mesmo que tenham de colocar em risco a vida, precisam ser enfrentadas com maior rigor. Embora a África esteja oferecendo cada vez mais oportunidades a seus povos, também está colocando novos desafios. Conflitos, Estados falidos e epidemias ainda representam importantes ameaças.As economias avançadas, a começar pela UE, precisam investir tanto em termos políticos quanto econômicos no crescimento, desenvolvimento e estabilidade do continente africano. O futuro da África representa, em último recurso, nosso futuro.Numa região muito complexa, a Líbia representa um desafio crucial. Pelo menos 90% dos migrantes que chegam ao solo italiano passam por esse país. A Líbia é presa não só de uma instabilidade endêmica, mas também do terrorismo internacional. O Estado Islâmico opera no país, contribuindo para o caos da guerra civil.Em paralelo, aumentei Nem todos os passageiros de embarcações de traficantes são famílias inocentes. Nosso esforço de contraterrorismo no Norte da África precisa evoluir para se antecipar a essa ameaça que cria um terreno fértil para o tráfico humano e interage perigosamente com ele. Precisamos continuar os esforços políticos e diplomáticos para a reconstrução da Líbia.As consultas e a colaboração com aliados da Itália, mais recentemente por ocasião de meu encontro em Washington com o presidente Barack Obama, para identificar uma resposta eficaz contra o terrorismo.Não seremos acuados pelo medo. Nosso caminho para prosperidade, justiça e liberdade continuará guiado pela luz dos valores originários do Mediterrâneo em benefício de todas as pessoas que cheguem em paz a todas as costas de nosso mar. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK É PRIMEIRO-MINISTRO DA ITÁLIA

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