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Al-Qaeda pode tomar armas de rebeldes líbios

Medo de que equipamento caia nas mãos de rede terrorista aumenta resistência do Ocidente em fornecer arsenal

Por Andrei Netto
Atualização:

CORRESPONDENTE / PARISNa sexta-feira, em Moscou, o embaixador da Líbia na Rússia, Amir al-Arabi Ali Gharib, advertiu a comunidade internacional que a rede terrorista Al-Qaeda pode estar desviando armas de depósitos líbios para equipar seus arsenais. O alerta é um dos raros pontos de consenso entre o regime de Muamar Kadafi e os líderes políticos e militares da coalizão liderada por França e Grã-Bretanha. O temor de que a rede terrorista possa tirar proveito do caos para reforçar seu poder de fogo é uma das razões pelas quais a coalizão tem resistido a fornecer as armas reivindicadas pelo Conselho Nacional Provisório - para que tenha condições materiais de derrotar Kadafi.O temor foi confirmado à reportagem do Estado por diplomatas europeus. O medo ecoa as experiências negativas do Iraque de Saddam Hussein e do Afeganistão do Taleban, que foram armados pelos Estados Unidos nos conflitos contra o Irã e a União Soviética, respectivamente, nos anos 80. Não que o movimento insurgente na Líbia seja ligado à Al-Qaeda, como afirma Kadafi. No entanto, o receio é de que a Al-Qaeda do Magreb Islâmico (AQMI), a sucursal do grupo comandado por Osama bin Laden no norte da África, tire proveito do caos no interior da Líbia. Em razão do conflito, estoques de munições, explosivos, metralhadoras AK-47, lança-granadas, lança-foguetes antitanque RPG-7 e até mísseis terra-ar estariam ao alcance do tráfico ou sujeitos a saques. "No contexto de anarquia entre os rebeldes, esses equipamentos podem facilmente cair nas mãos de ativistas da Al-Qaeda", sustenta Ali Gharib, fiel a Kadafi.Há 20 dias, James Stavridis, oficial americano da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), fez diagnóstico semelhante ao chamar a atenção para os "sinais" de presença da Al-Qaeda e do Hezbollah na Líbia. Ao jornal Le Figaro, Mike Shereur, ex-dirigente da CIA, também advertiu que a doação de armas aos rebeldes pode, no futuro, acabar por alimentar redes terroristas. "É preciso que sejamos muito vigilantes quando falamos em dar armas aos rebeldes", ponderou.O receio de que terroristas se aproveitem da situação e se apropriem de armas destinadas aos insurgentes também se verifica entre os vizinhos da Líbia, como a Argélia e a Tunísia. Os serviços de segurança desses países já trabalham para tentar evitar dois cenários: a fuga dos mercenários armados contratados por Muamar Kadafi e a consequente venda das armas a grupos terroristas.Além disso, teme-se que o próprio regime líbio, na eventual iminência de uma derrota, franqueie o acesso aos arsenais de forma a desestabilizar o governo dos rebeldes do Conselho Nacional Provisório."Há redes de aprovisionamento de armas que vêm do Egito, via Irmandade Muçulmana, com o apoio do Hezbollah. E agora também há pessoas do Hamas que vêm comprar armas na região leste da Líbia", explica Pascal Le Pautremat, cientista político francês e doutor em conflitos contemporâneos.Pedido. Apesar das temores, os rebeldes continuam a solicitar armas aos países da coalizão, em especial nos encontros com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e com o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron. Na quarta-feira, o "chanceler" do governo rebelde, Ali al-Assaoui, disse preferir o armamento à presença militar de soldados ocidentais na Líbia. De acordo com ele, o conselho não precisa de tropas franco-britânicas porque pode eventualmente contar com reforços de voluntários de outros países árabes "se a situação exigir". Para habilitar os grupos de voluntários ao combate, restam dois problemas: treinamento e armas.

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