Alemães provocaram grande explosão em NY em 1916

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Por Agencia Estado
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O ataque terrorista contra Nova York no dia 11 de setembro não foi o primeiro. Há um precedente que, infelizmente para os americanos, teve como resultado décadas de frustração para a Justiça e a entrada dos Estados Unidos na guerra mais sangrenta da história até então. Na madrugada do dia 30 de julho de 1916, os céus da baia de Nova York foram iluminados por uma explosão espetacular. As janelas dos arranha-céus de Manhattan quebraram em milhões de pedaços. A famosa ponte de Brooklyn balançou, lançando carros e caminhões contra as grades de proteção. Na cidade de Filadélfia, distante 125 quilômetros, milhares de pessoas acordaram com o barulho estrondoso. A explosão originou num lugar chamado Black Tom, um complexo de docas e armazens em Nova Jersey perto da Ilha de Bedloe, famosa por hospedar a Estátua da Liberdade. O complexo, parte da Companhia das Docas de Nova York, estava sendo usado como entreposto para munições americanas a caminho de Europa. No dia 30 de julho o Black Tom tinha algo em torno de 2.000 toneladas de bombas, munição e dinamite em 100 vagões de trem - isto equivale a 10% do poder destrutivo das primeiras bombas atômicas. Toda a carga deste enorme pacote de explosivos foi sentida na baía de Nova York naquela noite. A pequena ilha de Black Tom, uma espécie de âncora para a doca principal do complexo, simplesmente deixou de existir. Setenta anos depois, quando a Estátua da Liberdade foi reformada, os trabalhadores acharam estilhaços de metal, típicos das bombas usadas na Primeira Guerra Mundial, no seu interior. Quatro mortos Milagrosamente, só quatro pessoas perderam as suas vidas. O número reduzido de mortes foi atribuído ao horário (2h45 da madrugada) e ao fato de o complexo gozar de uma força de segurança muito pequena. Como hoje, este último fato se tornou a base de fortes críticas. Como no caso do World Trade Center, as suspeitas logo caíram sobre supostos inimigos dos Estados Unidos: os alemães. A Europa estava em guerra. Os Estados Unidos, guiados pelo presidente hesitante e intelectual Woodrow Wilson, mantinha uma neutralidade ambivalente. Embora os americanos não estivessem lutando nos campos de batalha da França, as suas fábricas produziam toneladas de munição para os países aliados (Inglaterra, França e Rússia). A insatisfação alemã com a postura dos Estados Unidos era bem conhecida. Muitos americanos logo acusaram os alemães pelo ato de sabotagem em Black Tom, transformando o embaixador Johann Von Bernstorff no grande vilão. Os nacionalistas de plantão, liderados pelo exuberante ex-presidente Theodore Roosevelt, cobraram uma declaração imediata de guerra. Seis meses depois, um outro atentado espetacular, a explosão de uma fábrica de armas em Kingland, Nova Jersey, serviu como estopim para tal declaração e os americanos se juntaram aos ingleses e franceses nos campos de batalha. FBI No entanto, a polícia local e os agentes de um novo departamento do Ministério da Justiça, chamado de FBI, conduziram uma investigação minuciosa, porém altamente frustrante. Os investigadores levaram 14 anos para chegar aos culpados. Eram mesmo antigos diplomatas e agentes alemães. Mas, em 1930 muitos destes já haviam morrido enquanto os engenheiros dos atentados, inclusive Von Bernsdorff, ainda gozavam de imunidade diplomática. Doze pessoas foram presas. Num esforço paralelo, os Estados Unidos processaram o governo alemão. Um tribunal internacional deu ganho de causa aos americanos em 1939, estipulando um pagamento de US$ 50 milhões, a maior indenização da história até então. Mas a Alemanha de Hitler recusou-se a pagar. Os americanos finalmente receberam o dinheiro em parcelas, da Alemanha reconstruída, nos anos 40 e 50. O episódio ainda apresentou alguns aspectos curiosos. O advogado americano envolvido no caso, John J. McCloy, aprendeu muita coisa sobre diplomacia, espionagem e os alemães, lições que foram bem empregadas quando ele se tornou embaixador americano na Alemanha em 1949. Um dos agentes alemães nos atentados de 1916 e 1917 era um certo Capitão Franz von Papen, o mesmo que, como chanceler da Alemanha em 1933, deu o apoio crítico que levou Hitler ao poder absoluto. O episódio tem paralelos com o terrorismo de hoje. Como Osama bin Laden, Von Papen, e outros agentes alemães da época, fizeram experiências com armas químicas e biológicas. Por pouco, não colocaram veneno nos reservatórios de Nova Jersey e Nova York.

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