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Alemanha aprova novas diretrizes militares

Relatório confirma o crescente papel militar da Alemanha no mundo e prepara o cenário para as forças de paz alemãs que servem em áreas de risco

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo alemão aprovou, nesta quarta-feira em Berlim, novas diretrizes de segurança que confirmam o crescente papel militar da Alemanha no mundo e preparam o cenário para as forças de paz alemãs que servem em áreas de risco. "Um papel importante na futura configuração da Europa depende da Alemanha unida", diz o relatório divulgado pelo governo alemão. É mais um passo que afasta a Alemanha da cautela e do isolamento decorrentes do legado da Segunda Guerra. A participação militar da Alemanha no mundo cresceu muito nos últimos 12 anos, com o envio de tropas para o Afeganistão, a antiga Iugoslávia e costa do Líbano. O ministro da defesa alemão, Franz Josef Jung, disse que o documento é importante no momento em que a Alemanha se prepara para presidir a União Européia (EU) e o Grupo dos Oito (G-8), em 2007. "Consideramos não apenas a situação alemã mas também a internacional", disse em entrevista coletiva. Para Jung, os desafios políticos fazem parte das obrigações internacionais do país. "A ameaça do terrorismo internacional à nossa segurança mostra o quanto isso é necessário." O ministro disse ainda que o documento reflete mudança nas forças armadas: da defesa contra ataques durante a Guerra Fria, passando pela integração das antigas forças armadas da Alemanha Oriental, até o mundo de hoje. O documento diz que "as relações no Atlântico Norte continuam a ser a base da segurança comum da Alemanha e da Europa". Diz também que as relações do país com os Estados Unidos exigem "atenção constante e aprofundamento de relações por meio de consultas mútuas, além de ações em conjunto". O documento diz ainda que a UE e a OTAN "não competem entre si". Enquanto a defesa da Alemanha e de seus aliados contra ataques continua a ser a principal tarefa militar, "a prevenção de um conflito internacional e o gerenciamento de crises, incluindo a luta contra o terrorismo internacional, são as mais prováveis tarefas num futuro próximo", diz o documento, segundo o qual essas tarefas "dão forma a aptidões, sistemas de liderança, eficácia e equipamento" das forças armadas alemãs. Isolamento Desde a reunificação, em 1990, a Alemanha vem emergindo lentamente do isolamento diplomático pós-Segunda Guerra Mundial. O ex-chanceler Helmut Kohl quebrou um tabu contra a presença de tropas alemãs no exterior quando enviou militares médicos para apoiar a missão da ONU no Camdodja, em 1992. A Alemanha tem atualmente cerca de nove mil soldados no exterior, estacionados no Afeganistão, Congo, Bósnia, Kosovo e noutros países. Em sua mais recente missão, tropas alemãs patrulham a costa do Líbano desde o fim do conflito entre Israel e o Hezbollah. As novas diretrizes sugerem que o número de tropas pode aumentar. "A meta nacional é colocar de prontidão mais de 14 mil soldados, espalhados simultaneamente por cinco áreas diferentes", diz o documento, que enfatiza que tropas no exterior devem fazer parte de "um esforço integrado e abrangente, que ligue efetivamente os meios civil e militar". Em visita a Berlim nesta quarta-feira, o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, disse que o documento "combina realismo e imaginação", e destacou o papel da Alemanha como o segundo maior fornecedor de tropas da Aliança. Também nesta quarta, o gabinete alemão aprovou, como parte do esforço anti-terror liderado pelos EUA, a prorrogação por um ano de um mandato para que barcos alemães patrulhem a costa oriental da África. O relatório defende o serviço militar obrigatório. O governo alemão anterior, de centro-esquerda, ficou dividido sobre se o serviço militar obrigatório deveria ser mantido. O chefe de um grupo que defende o interesse de soldados alemães, Bernhard Gertz, gostou. Mas, sobre regiões em conflito, disse a uma rádio da Baviera que "gostaria que o documento fosse mais claro sobre os lugares onde as forças armadas não poderiam atuar". Pressão americana Os EUA instou seus aliados europeus a aumentarem os gastos com segurança. A Alemanha gasta 1,4% de seu produto interno bruto com defesa; os EUA, 3,7%. Mas a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, disse que restrições do orçamento continuariam a limitar os gastos com defesa. O documento diz que "não há espaço para mais cortes nos gastos", embora faça referência à necessidade de "ajustes no planejamento financeiro".

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