Mais de 100 mil pessoas (110.119) morreram de covid-19 na Alemanha desde o início da pandemia, informou o Instituto Robert Koch nesta quinta-feira, 25, após contabilizar 351 novas mortes nas últimas 24 horas. O país europeu se tornou a 13ª nação do mundo a superar a marca, enquanto atravessa seu pior momento em número de infectados - cenário que tenta conter com a reativação de medidas restritivas e com a ampliação de sua campanha de vacinação.
"O dia no qual temos que lamentar 100 mil vítimas do coronavírus é um dia triste", declarou a chanceler Angela Merkel em entrevista coletiva, na qual também clamou ao próximo governo que imponha rapidamente medidas de distanciamento social para diminuir a curva exponencial de crescimento de contágios. Olaf Scholz, líder social-democrata que deve suceder Merkel em dezembro e terá a pandemia como principal (ou pelo menos o mais imediato) desafio, admitiu que "a situação é terrível".
Na semana passada, Merkel e Scholz chegaram a anunciar que novas restrições para não vacinados seriam adotadas em locais onde as taxas de hospitalização ultrapassassem um determinado limite, com proibição de acesso a não vacinados em eventos públicos, culturais e esportivos e restaurantes. No entanto, no começo desta semana, a própria chanceler advertiu para a "situação dramática" do país e disse que as restrições atuais "não são mais suficientes".
Com o passar da semana, o cenário se agravou. O Instituto Robert Koch registrou, nesta quinta, 75.961 novos casos da doença, o novo recorde diário para o país. O recrudescimento de contaminações sem precedentes também fezmédia móvel (últimos sete dias) atingir o pico máximo de 419,7 infecções por 100 mil habitantes.
Alguns fatores ajudam a explicar a quarta onda na União Europeia como um todo. Com a proximidade do inverno, as pessoas costumam passar mais tempo dentro de casa, onde o vírus se espalha facilmente. Neste contexto, a vacinação se torna ainda mais essencial, porém, pouco mais de 60% da população com mais de 12 anos está totalmente vacinada no bloco, o que deixa cerca de 150 milhões de pessoas desprotegidas - a menos que já tenham adquirido imunidade por terem se curado da doença.
Mesmo com a vacinação regular, ocorre que a imunidade adquirida com a vacina também diminui com o tempo, o que torna as doses adicionais ainda mais necessárias. Mas a UE demorou a administrá-las, e na Alemanha, onde o número de casos dobra a cada 12 dias, apenas 8% da população recebeu uma terceira dose.
Sem o controle dos contágios, o cenário atual preocupa cada vez mais as autoridades do país, que temem a saturação da rede de saúde. "As pessoas que adoecem hoje se tornam pacientes de UTI em 10 a 14 dias (...), então é crucial garantirmos que nossos hospitais não fiquem superlotados", afirmou a chanceler Angela Merkel, em entrevista coletiva.
Mas hospitais já alertam que os leitos de UTI estão se esgotando e que quase 4 mil estão ocupados por pacientes com covid-19. Diante da situação, alguns hospitais no sul e no leste do país já começaram a transferir pacientes para outras regiões.
"Em certas regiões, os hospitais já estão enfrentando "sobrecarga aguda" que exige a transferência de pacientes", alertou Gernot Marx, presidente da federação alemã de médicos intensivos.
Scholz indicou que a Alemanha tem de "estudar uma possível extensão" da obrigação de vacinação, atualmente em vigor no exército e nos estabelecimentos de saúde.
Atualmente, a Europa é a região do mundo mais afetada pela pandemia, com mais de 2,5 milhões de casos e quase 30 mil óbitos em uma semana.
Os 13 países que já ultrapassaram as 100 mil mortes por covid: EUA, 775 mil mortes; Brasil, 613 mil; Índia, 466 mil; México, 292 mil; Rússia, 262 mil; Peru, 200 mil; Reino Unido, 144 mil; Indonésia, 143 mil; Itália, 133 mil, Irã, 129 mil; Colômbia, 128 mil; França, 119 mil; Argentina, 116 mil; Alemanha, 100 mil
Vacinação abaixo do esperado
A situação é mais grave em países com taxas de vacinação contra a covid-19 abaixo do esperado, como acontece na Alemanha e na vizinha Áustria, onde o governo retomou o confinamento da população (o quarto desde o início da pandemia).
A taxa da população completamente vacinada na Alemanha é de 67% abaixo de outros países europeus como Portugal (87%), Espanha (80%), Itália (72%) e França (69%), segundo dados do "Our World in Data".
Mas a porcentagem dos alemães imunizados é similar à do Reino Unido (67%) e da média da União Europeia (66%) e superior à da Áustria (64%) e de países como Brasil (60%) e Estados Unidos (57%).
A Saxônia, estado no nordeste do país que tem a menor taxa de vacinação (57%), se tornou nesta quinta a primeira região alemã a registrar um número semanal de casos confirmados acima de 1 mil por 100 mil habitantes.
Covid-19 na Europa
O departamento europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu na quarta-feira, 25, que a covid-19 pode provocar 700 mil mortes no continente até março.
A OMS atribui a nova onda de Covid-19 na Europa à proliferação da variante delta, a uma cobertura insuficiente de vacinação e a uma flexibilização das restrições.
Embora 67% dos moradores da União Europeia estejam completamente vacinados, as diferenças entre países são notórias: apenas 24% dos búlgaros tomaram as duas doses, contra 87% dos portugueses.
Vários países estão endurecendo as medidas de restrição, e elas têm provocado protestos - alguns violentos - em países como Áustria, Bélgica e Holanda.
Medidas contra o vírus
No momento, a futura coalizão de governo descarta adotar um lockdown nacional na Alemanha e aposta no uso do certificado de vacinação nos transportes e na restrição de acesso de não vacinados a certos lugares.
Scholz afirmou que o país precisa "estudar" uma eventual ampliação da obrigatoriedade da vacinação, que atualmente já está em vigor no exército e em estabelecimentos de saúde.
O governo de Angela Merkel, do qual os social-democratas já fazem parte, prorrogou até abril de 2022 as ajudas para as empresas afetadas por fechamentos e queda de receita devido à pandemia./ AP, AFP, REUTERS e THE ECONOMIST