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Aliada, Austrália entra na lista de ‘alvos’ de Trump

Presidente americano defende seu estilo incisivo e diz que ele era necessário para evitar que os EUA sejam explorados pelo restante do mundo

Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

Em menos de duas semanas no cargo, Donald Trump entrou em confronto com um dos mais tradicionais aliados dos EUA, a Austrália, e esgarçou ainda mais os laços com o México, o vizinho que é o segundo maior destino das exportações americanas.

Nos dois casos, a origem da tensão foi o comportamento agressivo ou desrespeitoso de Trump em conversas telefônicas com os líderes dos dois países. Relatos sobre as ligações afetaram a imagem de Washington e provocaram reações da opinião pública e de políticos locais, o que pode abalar a cooperação bilateral futura. 

Donald Trump conversa com Vladimir Putin por telefone no sábado, 28 Foto: Al Drago/The New York Times

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Jornais australianos estampavam ontem reportagens e artigos que refletiam a percepção de que o relacionamento com os EUA alcançou seu mais baixo ponto em décadas.

O presidente americano defendeu seu estilo incisivo e disse que ele era necessário para evitar que os EUA sejam explorados pelo restante do mundo. “Temos de ser duros. É o momento de sermos um pouco mais duros, pessoal. Virtualmente cada nação do mundo está tirando vantagem de nós. Isso não vai mais acontecer.”

A origem do conflito com a Austrália foi um acordo fechado pelo governo Barack Obama para receber 1.200 refugiados que estão naquele país. O assunto foi discutido em um telefonema no sábado entre Trump e o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, que pediu a manutenção do compromisso.

Trump criticou o acordo e interrompeu a conversa de maneira abrupta, segundo relato do jornal Washington Post. Na quarta-feira, ele o atacou no Twitter: “Você acredita nisso? Obama concordou em receber milhares de imigrantes ilegais da Austrália. Por quê? Eu vou estudar esse acordo estúpido”.

Professor de Prática e Política Internacional da Universidade de Michigan, Melvyn Levitsky disse que há uma diferença entre ser “firme” e ser “ameaçador” diante de outros países. “Isso não vai funcionar em relações internacionais”, observou. “Espero que o sr. Trump entenda que ele não é o único que tem uma agenda. Líderes fortes como o da Austrália, de nossos aliados europeus e na América Latina têm seus próprios interesses e eleitores para os quais responder.”

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Na Austrália, o comportamento de Trump colocou em xeque a solidez da aliança mantida pelos países desde a 2.ª Guerra. Desde então, soldados australianos lutaram ao lado de americanos em cinco conflitos armados. Além disso, a Austrália coopera com agências de inteligência dos EUA e permite que tropas americanas fiquem estacionadas no norte do país.

“Isso nos leva a abandonar noções românticas sobre essa aliança e sermos mais realistas”, disse o ex-premiê australiano Bob Carr, segundo relato do Sydney Morning Herald. Mas Trump não deu mostra até agora de se importar com alianças internacionais. A julgar por seu discurso de ontem, ele parece acreditar que os EUA não precisam de ajuda: “O mundo está um tumulto, mas nós vamos arrumar isso, OK? É isso que faço. Eu conserto coisas.”

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