
13 de agosto de 2013 | 02h10
Os dados indicaram que o governo havia obtido em todo o país apenas 26% dos votos, a mais baixa proporção em uma década. Por trás desse desempenho eleitoral, os especialistas viram o "voto de castigo" contra a Casa Rosada, em razão da disparada da inflação, da elevada corrupção e do estilo de confronto da presidente Cristina. A fragmentada oposição, em conjunto, reuniu 74% dos votos.
A votação de domingo tinha por objetivo definir os candidatos que participarão das eleições parlamentares de outubro, quando os argentinos irão novamente às urnas renovar metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado.
O resultado no "ensaio geral" do fim de semana indica que o governo não conseguirá conseguir os dois terços do Parlamento necessários para reformar a Constituição.
Dessa forma, Cristina teria de encerrar sua presidência em dezembro de 2015. A dois anos do fim de seu mandato, os analistas afirmam que o clima, daqui em diante, será o de "fim de ciclo". Diversos políticos já falam em "pós-kirchnerismo". "Ficou claro, definitivamente, que não haverá chances de mudança constitucional para permitir uma segunda reeleição", disse o filósofo Ricardo Foster, líder dos intelectuais kirchneristas e candidato governista a deputado. Vários políticos ligados a Cristina chegaram à mesma conclusão.
Mariel Fornoni, da consultoria Management & Fit, disse ao Estado que os projetos de reeleição "foram a pique" com esse resultado. "Quando as coisas iam mal para Cristina, ela, geralmente, redobrava a aposta e insistia em um projeto. Agora, não existe consenso dentro do peronismo para mudar a Carta, nem apoio da opinião pública."
O sociólogo e analista político Carlos Fara afirmou ao Estado que o plano "Cristina Eterna" fica totalmente arquivado, por mais que ela tente ressuscitar o assunto, não haverá condição para isso". Segundo Fara, a presidente comandou a campanha "como se fosse um plebiscito sobre sua gestão".
O principal campo de batalha eleitoral foi a Província de Buenos Aires, que aglutina quase 38% dos eleitorado nacional. Ali, apesar do engajamento pessoal da presidente nos comícios, seu candidato obteve apenas 29,65% dos votos. Seu rival, Sergio Massa, ex-chefe do gabinete de ministros de Cristina, que migrou para o peronismo dissidente há poucos meses, obteve a vitória com 35,05%. O kirchnerismo também sofreu duras derrotas nas províncias de Mendoza, Santa Fé, Neuquén, San Juan e La Rioja, entre outras. Na Província de Córdoba, o kirchnerismo não passou de um terceiro lugar.
O analista político Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, afirmou que até outubro o governo fará o possível para reverter a situação. "Faltam ainda dois meses. Cristina intensificará a dinâmica do processo político."
Analistas e políticos preveem uma sangria de aliados kirchneristas, que começariam a abandonar a presidente nos próximos momentos. Simultaneamente, especula-se sobre uma eventual radicalização do discurso da presidente.
Um veterano ex-deputado peronista, ativo nas armações políticas, disse, em condição de anonimato ao Estado, que "o peronismo tem como commodity oficial a lealdade". "No entanto, na realidade, funciona como uma matilha de animais na qual, quando o líder começa a sangrar, os outros pulam em sua jugular e o matam - ou simplesmente o abandonam", afirmou o ex-deputado. "Se os governadores perceberem que Cristina está politicamente ferida, eles a deixarão. O êxodo já começou."
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