Aliança EUA-Israel terá peso menor na definição do voto judaico

Para analistas, fatores domésticos, como economia e reforma do sistema de saúde, são mais importantes para eleitorado judaico.

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Por Caio Quero
Atualização:

Embora a aliança entre os Estados Unidos e Israel seja um assunto recorrente na campanha para a Presidência dos Estados Unidos, analistas e pesquisas apontam que fatores domésticos, como a economia e a reforma do sistema de saúde, deverão ter um peso muito maior para o eleitor judaico na hora de escolher entre o democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney. De acordo com uma pesquisa realizada no início de setembro pelo American Jewish Committee (AJC) - grupo de defesa da comunidade judaica sediado em Nova York - 61,5% dos judeus americanos consideram a economia como a principal questão que levarão em conta na hora de escolher o próximo presidente do país. As relações entre EUA e Israel são citadas como a questão mais importante por apenas 4,5% dos entrevistados, taxa inferior a dos que dizem se preocupar com o sistema de saúde (16,1%) e até mesmo com a legislação relativa ao aborto (4,7%). Em entrevista por e-mail à BBC Brasil, David A. Harris, diretor-executivo do AJC, afirma que os pontos mais importantes para o eleitorado judeu nesta eleição são, por ordem de importância, a economia, saúde e segurança nacional. Segundo ele, a pesquisa aponta que as políticas de Obama em relação a Israel, territórios palestinos e Irã têm um impacto "limitado" no voto da comunidade judaica. Mesmo assim, o candidato republicano Mitt Romney, que visitou Jerusalém durante a campanha, vem adotando uma postura bastante crítica em relação às políticas para o Oriente Médio do presidente Barack Obama, a quem acusou de empurrar Israel para "debaixo do ônibus", expressão americana que tem um significado próximo ao de "sacrificar um aliado". Liberais Para Kenneth D. Wald, professor de Ciência Política da Universidade da Flórida especializado nas relações entre religião e política, a maioria dos judeus americanos não vê diferenças significativas entre as políticas de republicanos e democratas para Israel. "Embora apoiem bastante Israel, a atitude deles é muito mais moderada. Eu acho que a maioria apoia a solução de dois Estados (um Estado israelense e um palestino convivendo juntos) e a paz entre israelenses e palestinos", disse Wald. "Neste sentido, eles não são o tipo de eleitor do Likud", acrescenta ele, referindo-se ao partido conservador do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. Para o professor, mais do que conhecer a fundo as políticas republicanas para Israel, a maior parte dos judeus-americanos parece estar mais preocupada com as posições de certos setores do partido em relação a temas como o aborto e outras questões sociais. "O problema é que muitos dos mais efusivos apoiadores de Israel no Partido Republicano são protestantes evangélicos, que se distanciam fundamentalmente dos judeus no que diz respeito às questões básicas da política americana", explicou Wald. "Eu considero que a plataforma republicana que parece querer proibir aborto mesmo em caso de estupro incomoda muito mais aos judeus do que qualquer divergência com os democratas sobre Israel", acrescentou. De acordo com a pesquisa da AJC, 54,8% dos judeus americanos se dizem democratas, contra 15,8% de republicanos e 26,8% de independentes. A mesma pesquisa aponta que 64,9% dos judeus devem votar em Obama, contra 24,1% em Romney. Segundo David A. Harris, o único grupo em que Romney tem maior apoio é entre os judeus ortodoxos. Mudanças Alguns analistas, no entanto, afirmam que o apoio majoritário do eleitorado judeu ao Partido Democrata pode se reverter nas próximas décadas. Para Jonathan D. Sarna, professor de História Judaica Americana na Brandeis University, no Estado americano de Massachusetts, pode ocorrer nos Estados Unidos um processo parecido com o que já aconteceu no Canadá, Austrália e Grã-Bretanha, onde o eleitorado judeu, que apoiava partidos mais à esquerda, passou a votar em legendas mais conservadoras e alinhadas a Israel. "A maioria dos judeus ortodoxos agora apoia o Partido Republicano e um número crescente de imigrantes judeus russos e seus filhos também votam em republicanos. Assim, é provável que o Partido Republicano vá ganhar mais simpatizantes judeus com o tempo. Eu suspeito que, em duas gerações, os judeus estarão muito mais divididos entre os partidos, como no final do século 19", disse Sarna. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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