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Alianças eleitorais elevam tensão no Irã

Reformistas devem se afastar dos protestos e se unir aos moderados, contra os conservadores, nas eleições marcadas para o dia 14

Por Adriana Carranca
Atualização:

Os jovens prometem voltar às ruas do Irã na quinta-feira, quando serão conhecidos os candidatos autorizados a concorrer nas eleições presidenciais marcadas para 14 de junho - as primeiras desde os protestos que varreram o país, em 2009. Mas os reformistas, alvo de repressão e prisões, devem se afastar do movimento e unir forças no apoio ao moderado Akbar Hashemi Rafsanjani contra os conservadores, divididos. "Temos cerca de 9 mil pessoas em todo o país. Estamos nos organizando por internet. A situação é muito difícil, mas vamos voltar às ruas", disse ao Estado o estudante M.S., de 20 anos, que pediu para não ter o nome revelado por medo de represália. O jovem vive em Teerã e participou ativamente dos protestos em 2009. Ele diz que estava ao lado de Neda Agha-Soltan, morta por um miliciano basij - força paramilitar leal ao regime - em uma manifestação. O vídeo em que aparece baleada tornou-se símbolo da repressão às demandas por democracia. "Meu telefone está grampeado, somos vigiados todo o tempo, mas não nos deterão", diz M.S. Políticos reformistas, no entanto, temem que novos protestos dificultem ainda mais sua participação política. Após 2009, o Movimento Verde, como ficou conhecido, foi banido e muitos de seus partidários, presos. "Os reformistas vivem um impasse há muitos anos. Eles concluíram que não têm poder para reformar o regime, mas se opõem à tentativa de derrubá-lo", escreveu Karim Sadjadpour, do Carnegie Endowment for International Peace. E isso beneficiaria Rafsanjani. Com os principais candidatos da oposição na eleição presidencial de 2009, Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi, ainda em prisão domiciliar, os reformistas optaram pelo apoio a Rafsanjani, que presidiu o país entre 1989 e 1997. Fontes iranianas ouvidas pelo Estado relatam que o apoio dos reformistas foi articulado de última hora, o que levou Rafsanjani, de 74 anos, a registrar sua candidatura minutos antes de o prazo se esgotar. A coalizão que sustentará sua campanha inclui conservadores insatisfeitos com as divisões internas. Mais de 680 nomes foram registrados para a disputa, mas os candidatos têm de ser autorizados antes pelo Conselho dos Guardiães, formado por 12 clérigos, 6 teólogos apontados pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e 6 juristas nomeados pelo Judiciário - lealdade à autoridade máxima do país é a principal prerrogativa. Em 2009, de 476 candidatos registrados, apenas 4 puderam concorrer. Repressão. "A repressão que se seguiu (aos protestos) enfraqueceu o movimento. Muitos foram presos ou correram para o exílio. De outro lado, a ala conservadora tem profundas fissuras, intensificadas nos últimos anos pelo próprio (presidente Mahmoud) Ahmadinejad", diz Suzanne Maloney, do Brookings Institution, ex-assessora do Departamento de Estado americano. "É impossível prever quem serão os candidatos e muito menos o vencedor. Rafsanjani é mais conhecido e tem a seu favor uma máquina política conquistada em décadas e que se estende por vários setores. Para os reformistas e opositores do regime, ele representa a melhor aposta." Rafsanjani é visto como um pragmático e lembrado por reformas passadas que fez na economia - que hoje enfrenta graves problemas, entre outras coisas graças à ampliação das sanções impostas por Washington e Europa em represália ao programa nuclear iraniano. "A campanha eleitoral estará mais concentrada na economia do que em democracia, liberdade social ou nas relações com os EUA", diz Sadjadpour.Saeed Jalili, que chefia as negociações em torno do programa nuclear, no entanto, tem sido visto como forte candidato na disputa. Ele tem grande apoio dos nacionalistas iranianos e é visto como o preferido do líder supremo, que o nomeou para o Conselho Supremo de Segurança Nacional, em 2009. Outros candidatos conservadores falam em se retirar da campanha em seu favor. Um terceiro nome na disputa é Esfandiar Rahim-Mashaei, o candidato de Ahmadinejad. Não é certo que sua candidatura seja aceita - em 2009, Khamenei interveio diretamente contra sua nomeação como vice-presidente. O líder supremo acusa Ahmadinejad e Mashaei de liderar uma "corrente deturpada" que tenta reduzir a importância dos valores islâmicos e o poder dos aiatolás na sociedade iraniana, fomentando o nacionalismo do império persa.

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