Alta do ouro reativa produção em minas históricas brasileiras

Brasil está recebendo investimentos bilionários para voltar à lista dos principais exploradores do minério.

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Por João Fellet
Atualização:

Maior produtor mundial de ouro entre 1700 e 1850, o Brasil está recebendo investimentos bilionários para voltar à lista dos principais exploradores do minério. Paralelamente, o governo está intensificando o combate ao garimpo ilegal de ouro na Amazônia, foco de atritos em regiões de fronteira, num esforço que também visa formalizar o setor para tirar proveito dos altos preços do minério. Hoje na 11ª posição do ranking dos produtores, segundo o Serviço Geológico Americano (USGS), o país pode subir ao 7º posto caso os planos do governo de dobrar a extração de ouro até 2017 se concretizem. Para cumprir a meta, espera-se que o setor receba US$ 2,4 bilhões em investimentos entre 2011 e 2015. A meta do governo, expressa no último Plano Nacional de Mineração, se sustenta nos preços do minério, que dobraram desde o início da crise econômica mundial, em 2008. Considerado um investimento seguro em tempos de instabilidade nas bolsas e forte oscilação de moedas, o ouro valia cerca de US$ 800 a onça (31 gramas) no fim de 2007. Hoje está cotado em US$ 1.600. A valorização tornou rentáveis minas com baixo teor de ouro e outras já exploradas, antes tidas como esgotadas. Entre as minas que serão reabertas está a de Serra Pelada, no sudeste do Pará. A mina atraiu milhares de migrantes nos anos 80 e fechou em 1992, em meio ao declínio da produção. Celebrizada pelas fotografias do "formigueiro humano" que abrigava, foi considerada o maior garimpo a céu aberto do mundo. Outras minas que serão reabertas estão a de Riacho dos Machados, em Minas Gerais, e a de Pilar de Goiás. Em 2011, segundo o USGS, o Brasil produziu 65 toneladas de ouro. A maior produtora mundial é a China, com 345 toneladas. Na América Latina, a produção brasileira é superada apenas pela do Peru, com 170 toneladas. Incremento Responsável por 26 das 65 toneladas de ouro extraídas anualmente no Brasil (17% do total), a mineradora canadense Yamana espera aumentar em 11 toneladas (40%) sua produção até 2014. O incremento virá de três novas minas na Bahia, Mato Grosso e Goiás. Com o início da operação da última delas, em Pilar de Goiás, a exploração do minério será retomada num município fundado em 1741, durante a primeira corrida ao ouro no Brasil. Desta vez, porém, a mina será explorada com alta tecnologia, em túneis subterrâneos que ultrapassam 5 quilômetros de extensão. Segundo a Yamana, a mina terá porte médio, com produção média de 3,7 toneladas de ouro ao ano. Estima-se que cada tonelada de rocha na mina contenha 2 gramas de ouro. O metal será extraído por explosivos e separado por um longo processo de refino. O comerciante Delfim José de Amorim conta que se assustou com o "inchaço" na cidade. "Nos pegaram com as calças na mão", diz à BBC Brasil. Segundo ele, os moradores terão de ser qualificados pela empresa para poder pleitear os empregos na mina - a Yamana diz ter como meta usar ao menos 75% de mão de obra local em seus empreendimentos. "Não estamos preparados para enfrentar o progresso", diz o comerciante. Mas mesmo que não consigam empregos na mina, afirma Amorim, os habitantes de Pilar esperam que a cidade se beneficie dos impostos a serem arrecadados com a atividade. Conforme os critérios atuais para a divisão desses impostos, conhecidos como royalties, 0,65% do faturamento com a venda de ouro numa mina fica com o município produtor - a União abocanha 0,12%, e o Estado produtor, 0,23%. O governo pretende levar ao Congresso, porém, proposta para elevar a cobrança de royalties para o ouro e outros minérios. No entanto, as mineradoras afirmam que alterações podem frustrar os planos do governo de aumentar a produção. "Faz-se investimento com base no que está estabelecido. Mudanças nas regras do jogo sempre preocupam", afirma Portugal, da Yamana. A falta de mão de obra capacitada é outro entrave ao incremento da produção, ele diz, ecoando o relato de Amorim. "Custa muito investir na formação, e não estamos conseguindo suprir a demanda. É difícil levar um profissional para uma área remota se ele tiver oportunidade de trabalho em Belo Horizonte, São Paulo ou Vitória." Megaoperação na Amazônia Enquanto mineradoras correm para tirar seus projetos do papel, o governo atua para frear a mineração ilegal. Na Amazônia, 8.700 militares participam desde o último dia 2 de uma megaoperação que busca, entre outros objetivos, combater garimpos ilegais nas fronteiras com a Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A ação, denominada "Ágata 4", mobilizará por um mês 11 navios, nove helicópteros e 27 aviões. Na operação, os militares fecharam cinco minas ilegais, apreenderam 235 embarcações e destruíram duas pistas de pouso usadas por garimpeiros. A iniciativa se soma a três operações da Polícia Federal (PF) ocorridas desde o ano passado para combater o garimpo ilegal de ouro na região Norte. O governo brasileiro vem sendo cobrado especialmente pela Guiana Francesa, Guiana e Suriname para controlar a ação de garimpeiros brasileiros na fronteira com esses países, atividade desenvolvida há décadas, mas que ganhou novo fôlego com a alta dos preços. No dia 25 de abril, num sinal da crescente tensão na região, cerca de cem mineradores brasileiros foram presos na Guiana. Ao combater o garimpo ilegal, o governo também busca aumentar a formalização do setor e valer-se dos altos preços do minério para melhorar o balanço comercial. Em 2011, o ouro foi o segundo minério que mais gerou receitas para o Brasil em exportações. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a atividade rendeu US$ 2,2 bilhões ao país. Os ganhos só foram superados (ainda que com larga folga) pelos da exportação de minério de ferro, que alcançaram US$ 41,8 bilhões. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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