Alto comparecimento de eleitores dá alento à centro-esquerda em Israel

O partido de direita do premiê Binyamin Netanyahu é apontado como o favorito, mas grande número de votantes tende a favorecer outro lado do espectro político

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Por BBC Brasil
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TEL-AVIV - O partido de direita Likud-Beitenu, do atual premiê Binyamin Netanyahu, é apontado por pesquisas de opinião como o favorito para obter o maior número de assentos no Parlamento e chefiar a próxima coalização governamental. No entanto, o alto comparecimento de eleitores surpreendeu e deu alento aos partidos de centro-esquerda, que em geral têm mais dificuldades em convencer seus eleitores a votar. Segundo o jornal Haaretz, fontes indicaram que a votação em massa pode colocar o partido centrista Yesh Atid como o segundo mais votado. Tradicionalmente, altas taxas de comparecimento às urnas são registradas apenas por parte do eleitorado ultraortodoxo e partidário de ideias nacional-religiosas. Assim, uma maior participação de outros setores do eleitorado pode gerar um resultado inesperado para Netanyahu. O premiê convocou seus seguidores a "largar tudo" e sair para votar, depois que dados indicaram que a média de comparecimento eleitoral em seus bastiões políticos estava inferior à da média geral do país. Os resultados preliminares do pleito devem ser divulgados nas próximas horas, mas a formação do governo deverá levar semanas. Agenda doméstica Ao contrário de eleições prévias, as campanhas eleitorais israelenses deste ano focaram principalmente em temas domésticos - sociais e econômicos -, em vez de nas perspectivas de um acordo de paz com os palestinos. Israel tem registrado protestos até então inéditos contra o aumento do custo de vida, e um relatório recente apontou altos índices relativos de pobreza no país. As pesquisas de opinião vinham indicando a possibilidade de Israel eleger parlamentares que formarão uma coalizão ainda mais à direita do que a atual e com menos disposição para fazer qualquer concessão que possibilite um acordo para um Estado palestino. Se confirmadas as pesquisas, o Likud deverá ficar com o maior número de assentos do Knesset (o Parlamento israelense, com 120 cadeiras), manter sua coalizão com o ultradireitista Israel Beitenu (do ex-chanceler Avigdor Lieberman) e fazer acordos com outros partidos considerados seus "aliados naturais" - o religioso-nacionalista Habait Hayehudi (O Lar Judaico) e os ultraortodoxos Shas e Yahadut Hatorah. Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, esses partidos formariam um bloco de direita, extrema-direita e partidos religiosos, que poderá obter 67-70 cadeiras no Parlamento. Tal resultado não representaria um aumento dramático em relação ao número de assentos que a coalizão tem hoje - 65.

Mas além desse aumento quantitativo, também é esperada uma mudança qualitativa, já que dentro do bloco governista se nota um fortalecimento da extrema-direita. Para "equilibrar" o governo e ampliar sua base de apoio no Parlamento, Netanyahu poderá convidar o centrista Yesh Atid. Fortalecimento da direita Mesmo antes dos resultados do pleito, o grupo dos colonos israelenses que moram em assentamentos nos territórios ocupados já é considerado o principal ganhador dessas eleições. Para o analista politico Akiva Eldar, do portal Al-Monitor, os colonos "conseguiram conquistar posições de força dentro do Likud e também deram uma nova roupagem ao partido Lar Judaico, atraindo eleitores seculares". Com isso, o Lar Judaico - cujo líder, Naftali Bennett, rejeita a solução de dois Estados e defende a anexação de grandes partes da Cisjordânia - passa a ter um papel político maior, desafiando a predominância do Likud. Segundo Eldar, questões étnicas e culturais também ajudaram a impulsionar o fortalecimento da direita em Israel: o voto dos imigrantes da ex-União Soviética (que são quase 20% dos eleitores) e as tradicionalmente altas taxas de comparecimento eleitoral dos votantes ultraortodoxos e dos nacionalistas-religiosos. Colaborou Guila Flint, de Tel Aviv para a BBC Brasil BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC

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