Ambulante sente saudades dos protestos

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Por CAIRO
Atualização:

A relativa calmaria na Praça Tahrir tem roubado o sono de Tarak Ahmad. A questão não é política, explica exaltado o ambulante de 47 anos, mas estritamente comercial. Ahmad foi um dos primeiros vendedores a montar sua barraca no local que virou sinônimo da queda do ditador Hosni Mubarak, logo após o início dos protestos.

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Na ocasião, ele vendia de tudo: de água potável e lenços usados para resistir ao gás lacrimogêneo, a bandeirinhas do Egito, Tunísia, Líbia e de outros países que passaram pela Primavera Árabe. Quando as forças de Mubarak violentamente avançavam pela praça adentro, levavam junto sua barraca.

Ahmad diz que chegou a apanhar dos policiais e a ser saqueado por seus próprios clientes. No entanto, o vendedor ambulante remontava em seguida a barraca, pois "valia a pena", economicamente falando, de acordo com ele.

Diversificação. Hoje não vale mais a pena. O comerciante de rua tentou diversificar seus produtos, vende até bandeiras do Brasil e bugigangas de plástico. A máscara símbolo do grupo de hackers Anonymous chegou a fazer um sucesso tardio. A multidão de manifestantes e de consumidores da Praça Tahrir, contudo, não aparece mais como antes, pelo menos desde novembro.

Antes do levante, o ambulante vendia bandeirinhas em jogos de futebol. Tinha de times locais, durante o campeonato egípcio, e de vários países que disputaram a Copa do Mundo na África do Sul. Quando viu na TV a movimentação dos revolucionários no centro do Cairo, Ahmad descobriu um novo nicho de mercado. Pegou suas coisas e foi atrás dos manifestantes.

Manifestações. Ele jura que não torce para a situação política no Egito piorar, pois "nada é mais trágico do que jovens morrendo nas ruas". "No entanto, poderia haver mais manifestações pacíficas por aqui, por que não?", questiona.

Com a estagnação econômica no Egito, o vendedor ambulante diz não saber o que fará se os tempos de agitação política não voltarem. Enquanto isso, ele continua na Praça Tahrir. / R.S.

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