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Ameaças de ataques do Taleban afastam eleitores afegãos das urnas

Baixo comparecimento pode prejudicar o presidente Karzai e pôr em dúvida a legitimidade das eleições

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna e CABUL
Atualização:

O Taleban não foi capaz ontem de realizar grandes atentados na eleição para presidente e para conselhos provinciais, conforme tinha prometido. Mas sua intimidação parece ter funcionado. Depois de uma campanha cujos comícios e debates na TV provocaram grande entusiasmo, o comparecimento de ontem foi visivelmente baixo em muitas seções eleitorais. A Comissão Eleitoral Independente (CEI) só divulgará dentro de três a quatro dias o índice de comparecimento; e de dois a três dias, a primeira contagem parcial de votos. Um baixo comparecimento pode prejudicar o presidente Hamid Karzai, candidato à reeleição, porque uma de suas bases eleitorais é a população de maioria pashtun do sul do país, onde o Taleban exerce maior influência. Além disso, uma eventual abstenção alta pode colocar em dúvida a legitimidade da eleição. Pela última pesquisa, divulgada há uma semana pelo Instituto Republicano Internacional (organização apartidária americana), Karzai teria 44% dos votos e o ex-chanceler Abdullah Abdullah, de pai pashtun e mãe tajique, 25%. Se Karzai não conseguir mais de 50% dos votos irá a segundo turno, dentro de um mês e meio, provavelmente com Abdullah. RUAS SEMIDESERTAS A eleição foi marcada por um extraordinário esquema de segurança. Em Cabul, cidade de 4 milhões de habitantes, havia cerca de 40 bloqueios do Exército e da polícia. As ruas estavam semidesertas. As fronteiras da província de Cabul com as províncias vizinhas foram seladas dos dois lados, impedindo a entrada e saída de veículos. Embora algumas filas tenham se formado na abertura das seções eleitorais, às 7 horas, no decorrer do dia o movimento foi em geral fraco. Estimativas informais falavam de um comparecimento de 40% - ante cerca de 70% em 2004. A CEI conseguiu abrir 6.199 seções eleitorais, ou 94,88% das que haviam sido planejadas. As restantes não puderam ser abertas por causa das ações do Taleban. De acordo com o ministro do Interior, Mohammad Anif Atmar, em 70% das províncias as seções eleitorais funcionaram sem grandes transtornos. Nos outros 30%, os transtornos foram maiores, "mas, mesmo assim, as pessoas participaram". À pergunta sobre se um eventual baixo comparecimento não poria em xeque a legitimidade da eleição, Karzai respondeu que não, em entrevista coletiva depois do fechamento das urnas: "O povo afegão enfrentou bombas e intimidações e saiu para votar. Veremos qual foi o comparecimento. Isso é ótimo." Karzai qualificou as eleições de "um sucesso". O presidente americano, Barack Obama, disse ontem que as forças lideradas pelos EUA "precisam se concentrar em terminar o trabalho" no Afeganistão depois do que pareceu ser uma eleição bem sucedida. Mas ele admitiu que isso levará tempo. Segundo o governo afegão, 9 civis e 14 membros das forças de segurança morreram ontem em 135 incidentes que ocorreram em 15 das 34 províncias do país. Um soldado americano morreu num ataque com morteiro no leste do Afeganistão. Em Cabul, dois taleban com coletes com explosivos invadiram um prédio e foram mortos pela polícia. Eles participavam de um plano para atacar "grandes hotéis da cidade", disse Atmar. O ministro da Defesa, Abdul Rahim Wardak, afirmou que as forças de segurança frustraram na véspera 6 atentados suicidas e 29 outros ataques com explosivos. Só na cidade de Herat, no oeste, 12 atentados suicidas foram frustrados, acrescentou Amrullah Saleh, chefe do serviço secreto afegão. Saleh disse que foi preso em Cabul um suspeito chamado Hamid, que trabalha para Haji Ayoub, que foi o chefe do serviço de inteligência do regime Taleban, e opera desde Quetta, no sul do Paquistão. O chefe do serviço secreto afegão acrescentou que 70 pessoas foram treinadas em madrassas (escolas religiosas) do Paquistão para realizar ações contra as eleições no Afeganistão. "Eles receberam muito dinheiro", disse Saleh, sem dar mais detalhes.

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