Ameaças e falta de segurança podem afetar eleições afegãs

Polícia e Exército não têm homens e armas suficientes e Taleban diz que redobrará ataques

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Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

A polícia nacional e o Exército do Afeganistão, principais responsáveis pela segurança nas eleições do dia 20, não têm gente nem equipamentos suficientes para isso. Durante as eleições, os 100 mil soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e dos EUA no país vão apenas dar assessoria quando forem requisitados pelas forças afegãs, segundo o plano divulgado pela Comissão Internacional Eleitoral afegã. O objetivo é evitar acusações de interferência estrangeira nas eleições. Patrícia Campos Mello faz o diário do conflito no Afeganistão em seu blog> Mas a polícia e o Exército dizem não ter recursos suficientes para dar conta do policiamento de 7 mil postos de votação. O general Zahir Azimi, porta-voz do Ministério da Defesa, afirmou que o número de forças afegãs pode ser insuficiente. A polícia tem 90 mil homens e o Exército, 95 mil. Habib Safi, chefe de polícia de Jalalabad, principal cidade do leste do Afeganistão, disse ao Estado que o Taleban vem aumentando os ataques por causa da eleição para ganhar visibilidade. "E a polícia é o principal alvo", disse Safi. Ele afirma estar despreparado para dar conta do aumento nos ataques. "Não temos policiais suficientes. Temos só 40 homens para policiar uma área com mais de 200 mil pessoas", disse. "Se houver algum grande problema, não conseguiremos chegar a tempo." A delegacia de polícia de Jalalabad parece uma favela. As janelas não têm vidros, há vários cômodos sem teto transformados em depósitos de lixo e gente dormindo no chão. Todos os policiais moram na delegacia, em péssimas condições. Há duas semanas, o Taleban jogou uma bomba na delegacia, que destruiu parte de um dos alojamentos dos policiais. O policial Khair Mohamad estava dormindo quando a bomba explodiu. "Fiquei surdo por umas duas horas", conta, mostrando o buraco no teto. Foi a primeira bomba que ele viu na vida. Segundo o chefe de polícia, o Taleban está fazendo reuniões no Paquistão para planejar ataques para atrapalhar as eleições. "Segundo relatos, eles planejam atacar locais de votação com carros-bomba e suicidas", disse Safi. Os americanos vêm treinando policiais afegãos - essa é parte essencial da estratégia do presidente Barack Obama de transferir aos poucos a segurança do país para as forças afegãs. Mas o desafio é enorme, diz um militar americano. Na área de Jalalabad, por exemplo, cerca de 30% do combustível fornecido pelos americanos para a polícia afegã é revendido. "A corrupção é o problema número 1. Fica difícil eles revenderem as armas, pois temos números de série e podemos rastrear", disse uma fonte do Exército americano. O Taleban declarou que fará de tudo para atrapalhar as eleições "patrocinadas por invasores estrangeiros". "Não acho que temos um processo eleitoral justo e transparente", disse um porta-voz do Taleban, Qari Yusuf Ahmadi. "Então vamos dobrar nossos esforços para sabotar o processo eleitoral." Muitos eleitores estão desanimados com o panorama político, por causa da corrupção e têm medo de ataques. Se o comparecimento for muito baixo, a legitimidade da eleição fica ameaçada.

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