06 de novembro de 2012 | 09h00
Passados quatro anos da eleição de Barack Obama, a América Latina continua na periferia do interesse estratégico americano. Com sua política externa voltada para as retiradas do Iraque e do Afeganistão, Primavera Árabe e a contenção do avanço chinês no Pacífico, Obama acabou deixando o subcontinente de fora do topo de sua lista de prioridades. Com uma eventual vitória do republicano Mitt Romney, salvo uma mudança retórica mais dura com Cuba e Venezuela, essa tendência permanece inalterada.
Bem-visto na maioria do continente, o democrata teve a vantagem de ser mais popular no continente do que seu antecessor, George W. Bush, que tentou impor a fracassada Área de Livre Comércio das Américas (Alca) à região. Ao longo do mandato, no entanto, essa percepção caiu, muito em razão da pouca atenção dada pelos EUA à região. "Ele (Obama) passou a presidência preocupado com outras questões", resume o presidente do Diálogo Interamericano, Michael Shifter.
ESPECIAL: Eleições nos EUA
Para a opinião pública latino-americana, a empolgação com Obama deu lugar à indiferença. Uma pesquisa do Instituto Gallup divulgada em abril mostra que a expectativa de que as relações entre o subcontinente e os EUA melhore sob o governo do democrata caiu de 43% em 2009 para 34% em 2010 e 24% no ano passado. Hoje, um em cada três latino-americanos acredita que as relações continuarão iguais. Para 10%, Obama piorou o diálogo hemisférico.
Durante seu mandato, o presidente dos EUA assinou acordos de livre comércio há muito negociados com a Colômbia e o Panamá. Obama também relaxou restrições de viagens e envio de remessas de dinheiro a Cuba. Visitou a região uma vez, no ano passado, quando também esteve no Brasil, El Salvador e em Santiago. Na capital chilena, discursou sobre as relações hemisféricas e defendeu uma parceria de iguais com a América Latina, priorizando o comércio e o investimento em energia e educação.
Segundo a pesquisadora Diana Negroponte, do Brookings Institute, o governo Obama preferiu iniciativas menores e pragmáticas a grandes mudanças de estratégia na relação com a América Latina. "Isso reflete mais uma parceria do que uma liderança", diz. Em seu discurso no Chile, Obama corroborou essa visão. "Me comprometo a buscar uma parceria de iguais e com responsabilidades divididas, com base no interesse, respeito e valores mútuos", disse.
Na campanha deste ano, a região também se manteve à margem das discussões. No debate presidencial sobre política externa, no final de outubro, Romney fez uma breve menção à necessidade de aumentar as trocas comerciais com o subcontinente e criticou os governos de Cuba e da Venezuela.
Uma possível vitória do republicano, concordam analistas ouvidos pelo Estado, traria mais mudanças retóricas do que efetivas ao subcontinente. "Romney falou muito na campanha em expandir o comércio com a América Latina, mas nem cita nominalmente o Brasil como parceiro", diz Shifter.
Para a analista do Brookings, a maior diferença em uma gestão de Romney seria no tratamento destinado a Cuba e Venezuela. "Não há muita margem de manobra, mas os republicanos podem dar um pouco mais de apoio à oposição a Chávez", afirma Diana. Quanto a Cuba, a pressão contra o regime dos irmãos Castro também tende a aumentar.
Analistas venezuelanos, no entanto, acreditam que uma mudança de comando na Casa Branca traria consequências apenas retóricas. "Uma coisa são as diferenças políticas outra as relações bilaterais", acredita o venezuelano Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela.
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