Americano é morto a flechadas por tribo isolada da Índia

John Allen Chau, de 27 anos, carregava bíblia e tentaria converter os nativos da Ilha Sentinela do Norte - considerada a mais isolada do planeta - para o cristianismo, segundo a polícia; sete pessoas que o ajudaram foram presas e acusadas de homicídio culposo

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PORT BLAIR, ÍNDIA - O americano John Allen Chau, de 27 anos, sabia que o que estava prestes a fazer era extremamente perigoso. Ele queria chegar a uma ilha remota no Mar de Andaman usando um pequeno caíque. O local, uma das partes mais isoladas da Índia, é habitado por uma pequena e altamente enigmática tribo cujos membros atacam pessoas simplesmente por pisarem em suas praias.

Pescadores locais tentaram convencer Chau a desistir da ideia. Até hoje, pouquíssimos "outsiders" conseguiram ir e voltar com vida à Ilha Sentinela do Norte, habitada por esta tribo frequentemente descrita como a mais isolada do planeta e que rejeita qualquer contato com o mundo exterior. Além disso, uma regulamentação do governo indiano proíbe qualquer interação com os moradores da ilha.

Membro de tribo indígena da Ilha Sentinela do Norte, considerada a mais isolada do planeta, mira sua flecha contra helicóptero da Guarda Costeira que fazia inspeção após tsunami que atingiu a região em 2004 Foto: REUTERS/Indian Coast Guard

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Mas Chau não os ouviu. Ele seguiu com seu caiaque, no qual carregava também uma bíblia. O que aconteceu depois ainda não está totalmente claro, mas a polícia indiana diz ter uma certeza: que Chau não sobreviveu.

Nesta quarta-feira, 21, autoridades indianas disseram que o americano foi atingido por flechas disparadas pelos nativos da ilha assim que chegou em terra firme e que seu corpo ainda estava na ilha. 

Pescadores que o ajudaram no caminho até Sentinela do Norte disseram à polícia que tinham visto membros da tribo arrastando o corpo na praia. Foi uma "aventura no lugar errado", disse Dependra Pathak, chefe de polícia nas Ilhas Andaman e Nicobar. "Ele certamente sabia que entrava em área proibida."

Pathak diz que Chau era do Estado de Washington e, possivelmente, tentaria converter a tribo para o cristianismo. Pouco antes de partir em seu caiaque, Chau deu aos pescadores uma longa carta. Nela, segundo a polícia, ele escreveu que Jesus havia lhe dado força para ir aos lugares mais restritos da Terra.

As Ilhas de Andaman e Nicobar, no Oceano Índico, são muito bonitas, cheias de palmeiras e cercadas por corais. O governo controla o acesso com muito cuidado: muitas das mais de 500 ilhas que formam o complexo têm o acesso proibido.

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Em 14 de novembro, Chau contratou um barco de pesca em Port Blair, a principal cidade em Andaman, para levá-lo até Sentinela do Norte. Ele esperou escurecer para não ser detectado pelas autoridades.

T.N. Pandit, um antropólogo que visitou Sentinela do Norte várias vezes entre 1967 e 1991, disse que o povo local - cerca de 50 pessoas que caçam com lanças e flechas feitas de pedaços de metal que são levados pela maré até suas praias - era mais hostis aos desconhecidos do que outras comunidades indígenas que vivem nas ilhas de Andaman.

De acordo com os pescadores que o ajudaram, Chau colocou seu caiaque na água a menos de meio quilômetro da ilha e remou em direção a Sentinela do Norte. Os pescadores disseram que os indígenas atiraram flechas na direção do americano e que ele recuou. 

Ele teria tentado chegar à ilha várias vezes nos dois dias seguintes, segundo a polícia, oferecendo presentes como uma pequena bola de futebol, uma linha de pesca e uma tesoura. Mas na manhã de 17 de novembro, os pescadores disseram que viram os moradores da ilha carregando o corpo do americano.

Sete pessoas que ajudaram Chau a chegar à ilha foram presas e acusadas de homicídio culposo e violações de regras que protegem tribos aborígines. Outro caso foi registrado contra "pessoas desconhecidas" por matar Chau.

Autoridades já disseram, no entanto, que é praticamente impossível processar membros das tribos protegidas por causa da inacessibilidade da área e da decisão do governo indiano de não interferir em suas vidas. / NYT

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