Americanos debatem significado de vitória no Iraque

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Por Agencia Estado
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Perguntado no início da semana sobre o critério que a administração Bush usará para determinar o sucesso da guerra que está para iniciar contra o Iraque, o secretário de Estado Colin Powell falou no surgimento "de um país melhor para o povo iraquiano". Hoje, com as tropas e tanques americanos a caminho de posições no norte do Kuwait, a partir das quais invadirão o Iraque, a apreensão nos EUA diante do ataque e de suas conseqüências estava patente na discussão, nos jornais e pela televisão, sobre as condições necessárias para as forças armadas mais poderosas do mundo declararem vitória no embate com um exército de terceira categoria de um país de quarta, empobrecido e desmoralizado por 12 anos de embargo econômico externo e por mais de duas décadas de repressão interna. Apesar da ampla expectativa de que a guerra seja relativamente rápida e a maior parte das forças iraquianas se renda antes de disparar o primeiro tiro, especialistas acreditam que a duração do conflito e o número de baixas do lado americano serão as variáveis que determinarão o triunfo ou fracasso dos EUA. "Para Bush, a vitória requer uma guerra curta", disse ao Washington Post o coronel do Exército reformado Andrew Bocevich, que ensina relações internacionais na Universidade de Boston. "Meu palpite é que se (a guerra) durar mais de três semanas, Bush terá um problema real". Michelle Flournoy, uma ex-porta-voz do Pentágono, previu que se o conflito for rápido (entre alguns dias a um par de semanas) e as forças americanas pegarem Saddam Hussein e descobrirem um arsenal de armas de destruição em massa, o apoio popular à guerra, que já está na casa dos 70% entre os americanos, de acordo com as últimas pesquisas, chegará a índices altíssimos. Presumivelmente, tal desfecho ajudaria a reduzir a forte desaprovação internacional à guerra, o isolamento político dos EUA e facilitaria o conserto dos danos causados pela estratégia unilateral de Bush. A Guerra do Golfo, em 1991, durou pouco mais de um mês e resultou na morte de 293 americanos. Destes, 145 soldados perderam a vida, a maioria vítimas de erro de suas próprias forças, nas 100 horas da invasão terrestre que encerrou a guerra. As estimativas de mortos entre soldados e civis iraquianos variam entre 5 ml e 300 mil. Para o ex-marine David Sconyers, especialista em Oriente Médio da Universidade Comunitária do Sul da Flórida, "uma guerra de um mês de duração no Iraque que custe mais de 200 soldados americanos será um desastre de relações públicas para Bush". Outros apontam para o fato de que o apoio ao bombardeio aéreo de onze semanas da Sérvia, no final dos anos 90, durante a Guerra do Kosovo, em operação aprovada pela Aliança Atlântica, foi mantido em grande parte graças à ausência de baixas entre as forças americanas. Os maiores problemas, e o julgamento final sobre o sucesso ou fracasso de um ataque que começará sob a maciça reprovação da opinião pública internacional poderá depender não da guerra em si, mas das esperadas complicações da árdua tarefa de estabilização e administração da ocupação do Iraque pós-Saddam. William Kristol, editor da revista conservadora Weekly Standard e um dos ideólogos da "guerra de libertação do Iraque", que supostamente transformará o país numa democracia e criará uma nova dinâmica no Oriente Médio, admitiu nesta semana ter dúvidas sobre a disposição dos EUA para arcar com os custos econômico e político de tal empreendimento. "Minha maior preocupação é que, depois da vitória militar, comece a pressão no Congresso para declarar que a missão foi cumprida e é hora de trazer os soldados de volta", afirmou Kristol. O noticiário até 18/3/2003 Veja o especial :

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