
22 de novembro de 2010 | 10h29
GENEBRA - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu nesta segunda-feira, 22, a posição do Itamaraty na votação na Organização das Nações Unidas (ONU) de uma resolução que pedia a condenação do Irã por violações de direitos humanos e pelo tema do apedrejamento de mulheres. Amorim garantiu que não tomará "nenhuma decisão apenas para agradar ou um meio de comunicação ou uma ONG".
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"A resolução não era de apedrejamento. Não havia uma resolução sobre apedrejamento. Houve uma resolução sobre o Irã onde havia a questão do apedrejamento. Claro que a condenamos e já falamos isso muitas vezes e de forma muito mais efetiva que outros países, porque falamos diretamente e temos condições de diálogo com o governo de Irã. ", disse o chanceler.
Votação na ONU
Na semana passada, o Brasil foi um dos países que se absteve em uma votação na ONU sobre uma resolução contra o Irã. A resolução apresentada pelo Canadá acabou sendo aprovada.
O governo brasileiro diz que a resolução tem motivações políticas e a meta de pressionar o Irã em assuntos sem qualquer relação com a situação dos direitos humanos no país, notadamente a questão nuclear.
"Obviamente que condenamos o apedrejamento. Mas conseguimos falar com o interlocutor e isso é mais importante para a senhora (Sakineh) que está ameaçada que colocar um diploma na parede e dizer: Veja, aqui está, recebemos o aplauso", afirmou. "Há maneiras de atuar. É muito fácil seguir o que quer a imprensa que é dizer ´nós condenamos´, mas sem nenhum efeito prático", disse Amorim.
Apedrejamento suspenso
O ministro afirmou ainda que o governo do Irã já deu garantias de que Sakineh Ashtiani, presa por suspeita de adultério, não será apedrejada.
"Não posso atribuir ao Brasil, porque seria pretensioso, mas em vários casos já nos foi assegurado que o apedrejamento não vai ocorrer", afirmou o chanceler. Em setembro,a chancelaria iraniana informou que a sentença por apedrejamento havia sido suspensa.
Entenda o caso
Sakineh foi condenada em 2006 por manter relações com dois homens após ficar viúva, o que, segundo a lei islâmica, também é considerado adultério. Ela foi condenada a 99 chibatadas. Depois, esta pena foi convertida em morte por apedrejamento.
Em julho deste ano, seu advogado Mohammad Mostafaei tornou público o caso em um blog na internet, o que chamou a atenção da comunidade internacional. Perseguido pelas autoridades iranianas, ele fugiu para a Turquia, de onde buscou asilo político na Noruega.
A sentença de apedrejamento foi suspensa, mas ainda pode ser retomada pela Justiça. Um tribunal de apelações acrescentou ao caso a acusação de conspiração para o assassinato do marido, da qual ela continua condenada a morte por enforcamento.
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