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Análise: Aliados de Mubarak voltam a ocupar governos provinciais

Por David Kirkpatrick , Mayy ElSheikh e NYT
Atualização:

CAIRO - A jornada de massacres no Egito veio à tona um dia após o governo interino ter decidido instalar vários generais no cargo de governadores de província, ampliando temores de uma volta ao autoritarismo que marcou a era Hosni Mubarak. Dos 25 governadores indicados, 19 são generais - 17 do Exército e 2 da polícia. Um deles tornou-se conhecido ao se recusar, num gesto de insubordinação, a proteger os partidários do primeiro presidente eleito do Egito, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana. Outro, Mahmoud Othman Ateeq, foi filmado em 2011 apontando uma arma contra uma manifestação de professores que imploravam para que ele poupasse suas vidas. Dos seis civis, dois são juízes conhecidos como pessoas leais a Mubarak e profundamente hostis aos islamistas que defendem Morsi. No Cairo, a capital e a província mais populosa, o novo governador, Galal Mustafá Saed, pertencia a um alto escalão do antigo partido governista de Mubarak. Ele governou uma província menor até ser destituído durante a revolução de 2011. Nenhum dos islamistas nomeados por Morsi - 11 dos 27 governadores do Egito - permaneceu em sua função, mas 6 dos 9 generais que ele havia mantido como governadores continuaram em seus postos, embora um deles tenha sido transferido da região do Mar Vermelho para Alexandria. Com a nomeação de um número tão grande de generais, o novo governo instalado pelo general Abdel-Fattah al-Sisi também volta a adotar uma das táticas que eram a marca de Mubarak: o uso do cargo de governador para cultivar a lealdade de funcionários de alto escalão, ampliando, ao mesmo tempo, o poder do seu Estado policial. Ativistas que se opunham a Mubarak e a Morsi, imediatamente, denunciaram as nomeações como um retorno à autocracia. "Sisi é Mubarak", escreveu Alaa Abd al-Fattah em uma mensagem no Twitter. O fato de Morsi ter nomeado 11 governadores islamistas havia aumentado o temor de que os radicais tentassem monopolizar o poder. O presidente também havia provocado furor ao escolher, de maneira pouco ponderada, para Luxor, um governador pertencente ao partido islamista fundado pelo movimento Gamaa Islamiya, autor de um ataque terrorista naquela província, no qual morreram mais de 60 pessoas, em 1997, antes que a Irmandade renunciasse à violência. / * David Kirkpatrick e Mayy ElSheikh são jornalistas.TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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